Diretor de Política do Banco Central não deve ceder a pressões do mercado sobre a taxa básica americana.
Como é de conhecimento geral, em meio à busca por estabilidade econômica, a taxa Selic tem sido um ponto de destaque nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil. O diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, tem reforçado a importância de manter a Selic em níveis adequados para controlar a inflação e garantir a solidez da economia.
Em suas últimas declarações, Gabriel Galípolo enfatizou a relevância da taxa básica de juros como instrumento fundamental para a condução da política monetária. A manutenção da Selic em patamares adequados é crucial para garantir a estabilidade financeira do país e estimular o crescimento econômico de forma sustentável.
Selic: O Termômetro das Decisões Econômicas
Na sequência, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Roberto Campos Neto, adotou um tom mais ameno, o que foi seguido pelo próprio Galípolo, diretor de Política Econômica, que tentou corrigir sua visão mais uma vez. No mercado, muitos que inicialmente apoiaram a postura firme de Galípolo não ficaram satisfeitos com o desenrolar dos acontecimentos.
É desafiador distinguir o que é influência externa do que é interno na movimentação dos ativos brasileiros, porém houve uma percepção de que as declarações de Campos Neto e Galípolo, após as primeiras falas deste último, foram prejudiciais. Outra percepção no mercado é que as posturas ‘hawkish’ (conservadoras) de Galípolo precisam ser respaldadas por um aumento da Selic em setembro.
Caso isso não se concretize, a credibilidade do diretor indicado por Lula – e possível futuro presidente do BC – estaria em jogo. Fernando Rocha, economista-chefe da gestora JGP no Rio, tem uma visão distinta sobre esse impasse. ‘Não compartilho da ideia de que a alta da Selic em setembro é uma questão de ‘tudo ou nada’, e acredito que o Banco Central não deve se submeter às pressões do mercado’, afirma o analista.
Rocha reconhece a existência de elementos inflacionários na economia brasileira que podem justificar um aumento dos juros. Ele destaca o aquecimento da economia e do mercado de trabalho, o rápido crescimento da renda, expectativas inflacionárias em alta, o fim da desinflação de produtos e o aumento dos preços de serviços, entre outros fatores.
Por outro lado, no cenário internacional, os ventos têm soprado a favor. A economia dos Estados Unidos parece estar em uma desaceleração suave, com o mercado de trabalho perdendo fôlego, mas sem colapsar, e ainda assim a inflação convergindo para a meta. Nesse contexto, a taxa básica americana pode começar a cair de forma consistente, tanto a taxa fixada pelo Federal Reserve (Fed) quanto os juros de mercado.
Isso traz alívio para os países emergentes e pode resultar na valorização de suas moedas. Segundo Rocha, é possível que o Banco Central tenha que elevar os juros, mas o fato de não iniciar esse movimento já na próxima reunião não é catastrófico. Existe tempo para avaliar cuidadosamente todos os fatores internos e externos.
Ele compara os bancos centrais a transatlânticos, cujos ajustes devem ser feitos de forma gradual e ponderada. Além das declarações conservadoras de Galípolo – que Rocha associa a uma tentativa apressada de ganhar credibilidade -, ele enxerga uma coerência na comunicação recente do BC.
A abordagem passou de uma postura de redução da Selic para uma pausa e, posteriormente, para a sugestão de uma possível elevação. Diante da volatilidade e incertezas globais, a comunicação tem enfatizado que os dados divulgados até a data das reuniões do Copom terão impacto nas decisões.
Rocha acredita que o Banco Central pode ter caído em uma armadilha ao se sentir obrigado a elevar a Selic em setembro para não comprometer sua credibilidade. Como uma profecia que se autorrealiza, o economista vislumbra a possibilidade de isso acontecer.
Fonte: @ Estadão
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