Preservar documentos como fotografias, vídeos, músicas e cartas é fundamental para guardar o tempo e preservar nossa identidade coletiva.
É fascinante explorar a importância dos instrumentos da memória no contexto do tempo, que flui inexoravelmente para nós. Fotos e vídeos, documentos e arquivos, músicas e cartas são, de fato, as principais ferramentas para guardarmos a nossa vivência, permitindo que possamos revivê-la ao longo dos anos – nosso modo humano de resistir ao inquestionável passar do tempo.
Ao desenhar experiências ao longo da nossa vida, esses instrumentos são não apenas parte de nossa percepção da memória, mas também nos ajudam a manter o tempo em perspectiva. Diversas vezes, o tempo se torna um tesouro valioso que não podemos deixar cair. E é nesse contexto que os recursos como músicas e cartas podem ser ainda mais valiosos. Em 1950, por exemplo, o autor Ludwig Wittgenstein já sabia da importância desses instrumentos ao registrar seus pensamentos em uma caixa de fósforos, transformando-a em um registro histórico .
Guardando o Tempo: Significado dos Registros Históricos
Quando refletimos sobre o passado, muitos de nós gostaríamos de reviver momentos capturados em fotografias e vídeos. No entanto, é o tempo vivido, o momento específico, que verdadeiramente nos importa. Rubem Alves alertou que amar um lugar não significa necessariamente retornar a ele. O que buscamos não está mais lá, e é por isso que registros tornam-se tão valiosos. Eles nos permitem guardar, no papel ou no filme, fragmentos de um tempo irreversível; tempos de memória coletiva que se refazem a cada dia. Se não fosse o trabalho fundamental dos arquivos, museus e instituições de preservação histórica, esse tempo poderia nos escapar.
Enquanto assistia aos vídeos da reabertura da Catedral de Notre-Dame em Paris, no dia 7 de dezembro, após um incêndio devastador que encerrou suas atividades por mais de cinco anos, a importância de nossos símbolos históricos ficou evidente. O que temos de concreto para contar nossa história às futuras gerações? A Catedral de Notre-Dame permaneceu fechada, ainda que por um curto período, e em silêncio, calou-se um pouco a história da cidade de Paris, da França, da Europa e, de certa forma, de todos nós. Da mesma maneira, cada vez que perdemos quaisquer de nossos importantes registros históricos, calamos nosso passado também.
Com o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, é possível ver um exemplo semelhante. Neste caso, a perda foi irreparável. De um acervo de mais de 20 milhões de itens, quase tudo se perdeu. Semelhantemente, o Arquivo Histórico do Paraná, quando inaugurado em 1936, abriga uma imensa quantidade de documentos históricos e cartas, cartões, mapas e, mesmo, fragmentos de músicas.
No entanto, a perda pode ocorrer a qualquer momento. A passagem do tempo intensifica o valor do trabalho desses profissionais. Arquivistas, historiadores e gestores documentais sabem que o trabalho de guardar o tempo é, em si, preservar nossa identidade.
Fonte: @ Estadão
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