Busca pelo poder em uma estrutura de sistema com valores como competição acima de tudo, onde métodos são bons.
Em um cenário de poder e influência, o advogado Roy Cohn transmitiu ao jovem Donald Trump as três regras básicas para se destacar em qualquer situação. Atacar sempre e nunca admitir culpa são fundamentais para manter o controle e a autoridade em qualquer circunstância. Essas regras foram apresentadas em O Aprendiz, um programa que mostrou a importância do poder e da determinação para alcançar o sucesso.
No mundo dos negócios e da política, o poder é fundamental para exercer influência e domínio. Negar até o fim e se declarar vitorioso em qualquer circunstância são habilidades essenciais para manter a autoridade e o respeito. Roy Cohn sabia disso e transmitiu essas lições ao jovem Donald Trump, que mais tarde as aplicaria em sua carreira política. O poder é uma ferramenta poderosa e deve ser usado com sabedoria e estratégia para alcançar os objetivos desejados.
O Poder e a Ascensão de Trump
O filme de Ali Abbasi, que estreia nesta quinta-feira, retrata a fase de formação do magnata que tenta voltar à Casa Branca dia 5 de novembro. A relação entre o veterano Cohn, um cão de fila do macartismo, e o jovem ambicioso que busca subir cada vez mais na escala social e econômica, é o cerne deste longa dirigido com habilidade por Abbasi. O diretor iraniano radicado na Dinamarca, autor de um filme estranho e envolvente chamado Border, estuda humanos que se comportam como feras quando se trata da busca pelo poder e pelo dinheiro.
O Aprendiz pode ser visto como um caso-limite que, por meio de uma história individual, põe a nu toda a estrutura de um sistema apoiado sobre valores tais como a competição acima de tudo, na qual todos os métodos são bons para atingir os objetivos e feio mesmo é perder. Roy Cohn (interpretado por Jeremy Strong) é quase uma caricatura de um desses tratores sociais, que exercem autoridade e influência sobre os outros. Sua história remonta à época do macartismo, quando a paranóia anticomunista permitiu todos os abusos no seio de uma sociedade que se queria democrática e lutava contra os perigos da tirania comunista.
Cohn era cínico, impiedoso, voraz e brilhante – uma figura ideal para moldar alguém de perfil semelhante à sua imagem e semelhança, tal como o jovem Trump. No caso, não se estranha que o discípulo tenha superado o mestre, como acontece com frequência. A trajetória de Trump (vivido por Sebastian Stan) é mostrada sem atenuantes e pintada em rasgos rápidos e marcantes, destacando seu domínio sobre os outros e sua busca pelo poder.
A Busca pelo Poder e o Domínio
Começa pelo retrofit de um hotel decadente em Nova York, passa pelo business da jogatina em Atlantic City, mostra o personagem em festas faraônicas e nada pudicas. Põe em cena seu affair e posterior casamento com Ivana (Maria Bakalova), a quem teria estuprado, numa das cenas mais polêmicas. O período escolhido é o da ascensão de Trump como homem de negócios para o qual os fins sempre justificam os meios. Não fala ainda do homem político, que surgiria depois.
Aliás, na época o jovem milionário tinha particular desprezo pelos políticos, aos quais, em geral, conseguia corromper com facilidade para atingir seus objetivos, tais como anistia de impostos – o que implicava na transferência de dinheiro da cidade, isto é, dos contribuintes, para os seus bolsos. No entanto, apesar do desprezo, tem o vislumbre de que o campo de caça para valer, para adultos, se encontra lá – no grande jogo da política. Uma acentuada curva dramática do filme passa pelo mentor Roy Cohn, que vai do ápice ao chão, numa trajetória de poder declinante e mazelas pessoais, inclusive amorosas e de saúde.
Já Trump é visto em sua plenitude, prestes a dar o grande salto e capturar sua presa – o país, o poder e a autoridade que ele sempre buscou. O filme é uma crítica à sociedade que valoriza a competição acima de tudo e permite que os mais fortes e astutos dominem os outros. É uma reflexão sobre o poder e como ele pode ser exercido de maneira corrupta e destrutiva.
Fonte: @ Estadão
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