Políticos de direita perceberão o ex-presidente como carta fora do baralho e perderão-lhe o apoio, devido a sua reação violenta ao golpe de estado, como se fosse uma organização criminosa em busca de novas oportunidades, sem a abolição de velhas práticas, sob a liderança de grandes personalidades.
O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pela Polícia Federal pelo crime de abolição violenta do estado democrático de direita, colaborou com o crescimento de novas lideranças no cenário político brasileiro, especialmente entre os eleitores de direita. Com o recuo das possibilidades de Bolsonaro se candidatar às eleições de 2026, surgem novas lideranças que disputam espaço na mente dos eleitores de direita.
Apesar da declaração do ex-presidente de que não vai ser indiciado, a Polícia Federal o indiciou pelos crimes de abolição violenta do estado democrático de direita, golpe de estado e organização criminosa. A Polícia Federal concluiu que Bolsonaro agiu com o objetivo de perpetuar o poder de forma ilegal. A decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro de não buscar a reeleição em 2026 pode ser um peso na balança de novas lideranças de direita.
A Transição de Bolsonaro: Uma Oportunidade para a Direita
A reação hesitante das principais lideranças políticas conservadoras com o novo indiciamento do ex-presidente é um sinal inequívoco de sua toxidade e de que Bolsonaro já é percebido por alguns como uma força desestabilizadora, não apenas para o próprio partido, mas para toda a direita. Com o avanço das investigações e a exposição cada vez maior de sua participação direta nos crimes, Bolsonaro será percebido não apenas como um obstáculo desnecessário, mas também como uma ameaça à sobrevivência política e eleitoral dos próprios políticos de direita, que precisam se distanciar da imagem de golpe de estado e de organização criminosa que o ex-presidente representa.
O grande desafio é encontrar novas lideranças carismáticas que sejam eleitoralmente competitivas e estejam comprometidas com a democracia, não apenas para vencer eleições, mas para construir um futuro político sustentável. Será que a direita conseguirá se livrar da sombra de Bolsonaro e se reinventar, ou continuará a ser refém do ex-presidente, assim como a esquerda se encontra refém de Lula, uma liderança carismática mas problemática?
A história do PT, que se confunde com a história política de Lula, é um exemplo de como uma organização política pode se tornar refém de uma única liderança, perdendo oportunidades de se renovar e encontrar novas lideranças competitivas. A derrota de Fernando Haddad à Presidência em 2018 voltou a aprisionar a esquerda a Lula, especialmente em torno da ideia de que Lula, uma vez solto, seria a única liderança capaz de derrotar Bolsonaro em 2022.
A direita, por muitos anos, ficou diretamente associada a ditadura militar, e até recentemente era tão envergonhada que pouquíssimos políticos tinham coragem de assumir o rótulo de direita ou defender abertamente uma agenda política conservadora. A abolição desse estigma é uma oportunidade para a direita se reinventar e se distanciar do autoritarismo, mas isso requer coragem política e uma renovação genuína de suas lideranças. Se a direita não aproveitar essa chance, correrá o risco a ter a sua identidade mais uma vez associada ao autoritarismo e perderá competitividade eleitoral.
Com a saída de Bolsonaro do cenário político, a direita tem uma grande chance de se reinventar e se afastar da sombra do golpe de estado e da organização criminosa. Mas isso requer uma abordagem séria e uma renovação genuína de suas lideranças, alinhadas com a democracia e comprometidas com a abolição do violento autoritarismo que Bolsonaro representa. A grande oportunidade perdida agora é encontrar novas lideranças carismáticas que sejam eleitoralmente competitivas e estejam comprometidas com a democracia, não apenas para vencer eleições, mas para construir um futuro político sustentável para a direita.
Fonte: @ Estadão
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