O ministro Gilmar Mendes cassou liminar do TJ-SP, suspendendo a consulta pública sobre a gestão de Tarcísio e movendo a implementação para 2026.
A política brasileira, com sua rica história de escândalos, continua a surpreender. A diferença atual é que o foco não está mais unicamente nas instituições tradicionais, como governo e Congresso, mas sim na oposição, com destaque para o ex-presidente Jair Bolsonaro. A tentativa de interferência nas eleições de 2022, que visava impedir a vitória de Lula, não apenas revelou uma grave ameaça à democracia, mas também aprofundou a crise política no país.
Esta crise política, caracterizada por uma política polarizada, tem suas raízes nas eleições de 2022. A disputa entre a oposição e o governo, mais especificamente entre Bolsonaro e Lula, revelou a falta de compromisso com a democracia e com os princípios éticos. A política de polarização que se seguiu, com a intensificação de discursos e ações divisórias, é um sinal claro da crise que enfrentamos.
Implicações Políticas de Longo Prazo
A implosão do bolsonarismo, em 2023, tem consequências de longo prazo para a arena política brasileira. No momento presente, o inquérito da Polícia Federal e a denúncia da Procuradoria-Geral da República da Corte Superior Eleitoral (TSE) criam um clima de incerteza entre os adeptos de Jair Bolsonaro, levando a uma divisão dentro da base bolsonarista. Um setor persistirá na defesa da inocência de Bolsonaro, enquanto um outro grupo verá o processo como uma oportunidade para construir lideranças alternativas, seja com viés antissistema ou mais moderado.
Essa divisão entre os adversários de Luiz Inácio Lula da Silva, causada pela incerteza sobre a perspectiva de poder de Bolsonaro, facilitaria o avanço da agenda do governo no Congresso, uma vez que a maioria dos deputados e senadores continua propensa a cooperar com Lula, mesmo que discretamente. Condições já têm sido relativamente favoráveis para o Planalto, com popularidade próxima aos níveis do início do governo, o que é uma condição importante para a aprovação de medidas econômicas.
Com uma oposição nas cordas, o governo terá mais controle sobre a pauta legislativa, com caminho mais aberto para as propostas de controle de gastos e outras iniciativas, como a reforma do imposto de renda ou novas medidas de aumento de receita. Haverá oposição a essas propostas, é claro, e muitas delas ainda acabarão sendo modificadas ou derrubadas pelo Congresso; mas essa resistência será ainda mais concentrada nos grupos de interesse específicos que são afetados, e menos articulada de maneira geral pelas lideranças de oposição.
A resposta de Bolsonaro a esse contexto deverá ser a de mostrar que ele ainda tem grande apelo eleitoral e que, mesmo que seja impedido de concorrer em 2026, poderá indicar outro nome, fechando as portas para dissidentes. Isso implica sinalizar que não desistirá de ser candidato, para reforçar a narrativa de perseguição, e que qualquer nome alternativo será fiel a suas bandeiras e leal a ele próprio, para ter o máximo possível de transferência de votos. Com isso, portanto, aumentam as chances de que um dos filhos do ex-presidente seja o verdadeiro candidato do campo bolsonarista em 2026.
Nesse cenário, é grande a chance de mais uma eleição polarizada em 2026; dessa vez, entre Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo ou Flávio Bolsonaro. A chave, para Bolsonaro, será manter o mesmo discurso que galvanizou o apoio de algo como um terço do eleitorado brasileiro, talvez até um pouco mais, a depender da análise. Assim, não apenas a direita bolsonarista teria uma chance real de voltar ao poder em 2026, mas também mais influência sobre as eleições do Congresso, especialmente no Senado, alterando o balanço de forças no Supremo Tribunal Federal.
Ainda há muito em jogo nos próximos anos, e o reequilíbrio de forças dentro da oposição, após o escândalo do plano golpista, será uma das histórias mais importantes para se acompanhar.
Fonte: @ Estadão
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