Clima pervasivo de erosão da instituição, resultante de degradação institucional, arrasta oficiais bem treinados em um esquema de golpe com complacência.
Ainda que o escalão de comando das Forças Armadas busque despolitizar suas ações, a politicização dessas instituições tende a se tornar cada vez mais acentuada, culminando em situações de insubordinação e desrespeito às suas próprias hierarquias. Isso ficou evidente em afirmações como a de Bolsonaro, em que ele se apresenta como o dono do Exército, criando um ambiente de desrespeito ao cargo e luta de poder.
É perfeitamente natural que militantes e civis que compartilham ideologias radicalizadas busquem aumentar sua influência dentro dessas instituições, o que, ao longo do tempo, pode levar a movimentos de despolitização. No entanto, quando se trata de instituições de segurança nacional, a partidarização dessas instituições pode se tornar um problema grave, levando a radicalização e falta de consenso.
Uma instituição em crise, onde a despolitização é um sonho distante
A complacência das chefias militares frente à erosão da instituição é um fenômeno complexo, que não pode ser reduzido a uma atitude deliberada ou consciente. Ainda que possam ter perdido o controle, o comando formal da arma permaneceu intacto, mas a autoridade do comando se esvaiu. A politização, uma das principais causas desse problema, é um tema que ainda não foi completamente debatido.
A politização: o grande vilão da instituição
É consenso que o Alto Comando do Exército nunca apoiou nem cultivou a hipótese de golpe para manter o capitão Jair Bolsonaro no poder. No entanto, vários de seus integrantes sabiam da desenvoltura com que oficiais imediatamente abaixo do generalato circulavam pelos corredores do poder, espalhando ideias desse tipo. A politização é um processo contínuo, que envolve a partidarização e a ideologização das instituições.
O clima de radicalização e a degradação institucional
‘Quem faz a cabeça dele’, dizia um general, referindo-se a Bolsonaro, ‘são esses malucos de ajudantes de ordens, assessores e coronéis’. A influência de Bolsonaro sobre os oficiais de alta patente é um fator importante a considerar. O ímpeto político de oficiais nesse segmento é um ‘clássico’ fartamente examinado na literatura e nos livros de História, especialmente sua capacidade de pressionar, peitar ou até criar fatos consumados para os próprios superiores.
A politização e a erosão da instituição
Essa era, aliás, uma das grandes preocupações do então comandante do Exército, General Villas Boas, quando numa mesma manhã, em 2018, um magistrado mandou soltar Lula e outro mandou deixá-lo na cadeia. Um coronel cabeça quente estaciona um jipe bloqueando a carceragem em Curitiba e ninguém mais controla a situação. O problema abrangente que transpira do material até aqui revelado pelas investigações da PF não tem a ver apenas com ‘cabeças quentes’ fardados e armados.
Fonte: @ Estadão
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