A constitucionalidade das emendas impositivas é o principal desafio para os Três Poderes devido à baixa transparência e natureza autorizativa.
Há diversas formas de lidar com os desafios relacionados às emendas impositivas dos parlamentares. É possível examinar considerando a quantidade de recursos envolvidos.
No sistema multipartidário brasileiro, as emendas parlamentares impositivas desempenham um papel crucial na destinação de recursos públicos para diferentes áreas. É essencial compreender a dinâmica desse sistema para uma análise mais aprofundada.
Emendas Impositivas: Desafios e Perspectivas
Hoje, o volume de recursos destinado às emendas parlamentares representa cerca de 23% das despesas discricionárias, um número muito superior ao observado em países da OCDE, onde tais recursos raramente ultrapassam 1%. Essa disparidade levanta questões sobre a natureza e o impacto das emendas impositivas no sistema multipartidário brasileiro.
Uma abordagem interessante para analisar esse cenário é considerar a baixa transparência na alocação dos recursos públicos, uma preocupação que foi levantada pelo STF. A decisão de suspender a execução das emendas impositivas e das Pix até que sejam apresentadas propostas que garantam transparência, rastreabilidade e fiscalização por órgãos de controle demonstra a necessidade de maior clareza nesse processo.
Até o momento, nenhum dos Três Poderes explorou devidamente essa oportunidade para discutir a questão central: a (in)constitucionalidade das leis que transformaram as emendas impositivas em um orçamento com caráter essencialmente autorizativo. Essa distorção compromete a lógica das emendas como instrumento de construção de maiorias legislativas, nivelando as diferenças entre governo e oposição.
A impositividade das emendas impede o Executivo de recompensar os partidos aliados, o que pode gerar problemas de governabilidade ao reduzir a atratividade de ser parte da coalizão governista. A busca por moedas alternativas de baixa transparência para substituir os recursos impositivos inflaciona o jogo político e o torna mais opaco.
O aumento exponencial do gasto por meio de emendas obscuras, de R$ 6 bilhões em 2014 para R$ 45 bilhões em 2024, é uma consequência direta da impositividade. No entanto, é importante considerar que a dinâmica entre Executivo e Legislativo pode se estabilizar com o tempo, especialmente após a intervenção do STF.
A redução do número de partidos políticos pode abrir caminho para um equilíbrio mais saudável, no qual o presidente seja incentivado a formar coalizões com menos partidos e distribuir ministérios de forma mais proporcional. No entanto, há o risco de um equilíbrio predatório, no qual as emendas impositivas ocupem espaços de outros gastos, prejudicando a eficiência do orçamento e aumentando os gastos fixos do governo.
A janela de oportunidade aberta pelo STF deve ser aproveitada para fortalecer a transparência e a eficiência na alocação de recursos públicos, evitando que as emendas impositivas se tornem um obstáculo à governabilidade e à estabilidade política no Brasil.
Fonte: @ Estadão
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