Integrantes da Força militar reconhecem gravidade dos relatórios policiais, mas se sentem desconfortáveis com a associação do caso à imagem do Exército, e com o envolvimento do Vice-presidente no caso de delação premiada junto ao Gabinete de Segurança Institucional, gerido pelo Alto Comando sobre Polícia Federal e Força Militar.
A prisão de Walter Braga Netto, ex-ministro e general da reserva, não foi um evento inesperado para os militares do Exército. Muitos deles já sabiam da operação da Polícia Federal no Rio de Janeiro que o alvejou e da consequente prisão, o que foi discutido em conversas reservadas após o ocorrido. Em conversas reservadas, os oficiais do Exército afirmam que a prisão do vice na chapa de Jair Bolsonaro na eleição de 2022 era algo esperado e que não surpreendeu.
Alguns militares chegaram a afirmar que a prisão de Walter Braga Netto não iria afetar a imagem do Exército, pois, como explica um oficial, _o Exército é uma instituição que primorosamente cumpre seus deveres e atua com impecável profissionalismo_, e não há motivos para que a prisão de um ex-ministro e general da reserva configure uma questão para a instituição. _A prisão de Braga Netto serve como um lembrete de que ninguém está acima da lei e que todos devem respeitar a justiça_, e isso é algo que o Exército defende e apoia.
Operação de Repressão
A prisão preventiva do General Walter Braga Netto, ordenada pelo Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, abala as fileiras do Exército. A ação da Polícia Federal é considerada grave, pois aponta para uma tentativa de interferência em investigações. A delação premiada do Tenente-Coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então Presidente Jair Bolsonaro, reforça a convicção de que o Exército teria envolvimento na tentativa de golpe.
A Força militar, até agora associada à lealdade e à disciplina, começa a sofrer as consequências da Associação com os militares próximos ao ex-presidente. Oficiais admitem um desconforto crescente, pois as investigações revelam a proximidade entre alguns oficiais e o que se chamou de ‘golpismo’.
A seqüência de eventos, revelados a partir das investigações, inclui novos nomes, e mesmo ficando claro que institucionalmente o comando do Exército não aderiu à ideia de golpe, as acusações impactam a imagem da Força. Alguns generais, como Augusto Heleno, já foram indiciados e possivelmente mais nomes vão aparecer nos próximos dias.
A prisão do General Braga Netto, além de abalar a Exército, também afeta o Alto Comando, pois os militares de alta patente não foram informados com antecedência da ordem de prisão. O Comandante do Exército, Tomás Miguel Paiva, só tomou conhecimento do mandado de prisão nas primeiras horas da manhã de sábado, 14.
A avaliação dos militares é de que as ações da Polícia Federal vão prosseguir por um bom tempo. Com a queda de Braga Netto, a crença é de que os próximos generais na lista de investigação serão Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos. A delação premiada de Mauro Cid fortalece as investigações, apontando um rumo, confirmado por documentos, telefonemas e instruções dadas pelo ex-candidato derrotado à Vice-Presidência.
A Polícia Federal está trabalhando para conhecer o conteúdo da delação do Tenente-Coronel Mauro Cid, e coletar provas, que podem levar a novas informações sobre o envolvimento de generais na tentativa de golpe. A Força militar continua sendo questionada, e a imagem do Exército está sendo afetada pelas investigações.
Fonte: @ Estadão
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