Cheguei ao Kur em caos, mas a cada passo, as coisas voltavam a seu lugar: mundo em ordem, refeições em horários, grau de entropia diminuindo, atmosfera de desordem desaparecendo, necessidade de reordenar a tarefa natural.
Na última semana, participei de uma palestra em Porto Alegre e em seguida, deslocuei-me a Gramado, cidade conhecida por chocolates, fondues e outras delícias, mas o que me chamou atenção foi o Kur, spa médico fundado há 40 anos, um local dedicado à saúde por meio de alimentação natural.
A minha experiência foi marcada por um desequilíbrio entre o lado desordenado da cidade e o equilíbrio oferecido pelo spa. Em um dia, pude aproveitar do caos da cidade, com suas ruas cheias de turistas, enquanto no outro, encontrei um refúgio no Kur, onde pude me concentrar em ordens como uma dieta balanceada e exercícios regulares. A experiência foi uma ordem necessária para recuperar a minha energia e equilibrar a minha vida.
Reconstruindo a Ordem
Ao final de cada dia, eu e Fernando fazíamos uma caminhada pelas redondezas do hotel, mergulhados em um mundo que apelidamos de ‘mundo em ordem‘. As ruas arborizadas, calçadas feitas para andar e pequenas casas simples, mas com floreiras e pequenos jardins bem cuidados, me faziam entrar em um estado de graude e calma, ajudando a desconstruir o desequilíbrio e a desordem que havia sido minha realidade antes de chegar ao Kur.
Eu havia chegado ao Kur com uma completa sensação de caos e de tarefas não cumpridas, fim de ano lotado, resfriada e cheia de demandas que não paravam de chegar por e-mails, WhatsApp e inbox. Mas a cada nova caminhada era como se as coisas fossem voltando aos seus lugares, e a atmosfera de ordem externa me ajudava a reordenar minha mente e me preparar para lidar com o caos que havia deixado para trás.
O Kurotel, em Gramado (RS), era o local perfeito para refeições em horários determinados, comer algo bom para meu organismo, dormir cedo e passear por 40 minutos em um lugar onde tudo parecia estar sob controle, me trazendo uma sensação de alívio e bem-estar. Como meus leitores sabem, ando às voltas com os livros e reflexões de Rosa Montero, e uma de suas ideias me chamou a atenção: a vida acontece quando se reduz o grau de entropia, desordem, da atmosfera. Ou seja, a vida ordena o desequilíbrio, a vida atua como geradora de ordem.
Essa ideia me lembrou um outro conceito de Tikun Olam, do judaísmo, que diz que ‘o universo está literalmente quebrado e precisa de reparo’. A humanidade participaria da criação ajudando a consertar o mundo, colocá-lo em ordem. Tive sempre a sensação de que fui talhada para a tarefa de arrumar e organizar as confusões do mundo, pelo menos do meu pequeno mundo.
Chegar ao escritório, escutar cada problema e dar uma solução, entrar em reuniões e tentar resolver situações trazidas por clientes, chegar em casa e dar um diferente norte aos problemas de casa, e assim por diante, é meu dia a dia. Quando essa função ‘resolver problemas’ está desativada por cansaço, tenho a nítida sensação de que o caos avança a passos largos e vai tomando pedaços da minha vida.
Nesse breve retiro, rodeada por essa ordem externa, pude reorganizar a ordem interna e voltar para meu caos particular de final de ano com uma disposição renovada para a tarefa natural de reordenar ou consertar a vida.
Fonte: @ Estadão
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