Espouses e diretores do evento celebram amor como poderoso remédio, humor está presente
O documentário Kubrusly – Mistério Sempre Há de Pintar por Aí, dirigido por Caio Cave chino e Evelyn Kuriki, foi apresentado na abertura da 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, em São Miguel do Gostoso/RN. O evento contou com a presença de Maurício Kubrusly, o qual esteve ao lado de sua esposa e dos diretores do evento.
A transmissão do documentário trouxe à tona a vida e as conquistas do Maurício Kubrusly, conhecido por sua importância na medicina brasileira, e sua luta contra a doença que o afetou. O filme também trouxe à tona a importância da memória e a necessidade de preservar a história de figuras como Maurício Kubrusly, que deixaram um legado duradouro na sociedade brasileira.
Kubrusly: um jornalista que ainda faz rir
Kubrusly estava em Gostoso, no Rio Grande do Norte, ao lado da sua esposa, Bia Goulart, e foi aplaudido de pé pela plateia na Praia do Maceió. Por que um documentário sobre um jornalista, tão conhecido pelo seu trabalho na Globo, seria tão tocante? Há um fato particular que o torna dramático: Kubrusly sofre de demência frontotemporal, uma doença que afeta a cognição e a memória. Ele já não se lembra de quem foi, do que fez ou escreveu. Mas o documentário não é deprimente; pelo contrário, lembra em certos aspectos outro filme chileno, A Memória Infinita, de Maite Alberdi.
Kubrusly: um caso de amor e humor
No filme, a diretora Alberdi retrata o drama de um casal conhecido no Chile. O marido, Augusto Góngora, jornalista e guardião da memória do país em sua luta contra a ditadura Pinochet, acaba por ter sua própria memória comprometida pelo mal de Alzheimer. A esposa, a atriz e ex-ministra da Cultura Paulina Urrutia, dá todo apoio, numa relação amorosa e solidária, que a doença não abala. No entanto, nos dois filmes, temos um ponto em comum – a presença de mulheres fortes e amorosas que dão suporte aos maridos. Outro ponto: evitam a autopiedade e toda forma de pieguice. Parecem mais celebrações do que lamentações sobre o que perderam com a doença. Se o termo não for piegas para leitores contemporâneos, pode-se dizer que também celebram o amor entre pessoas como poderoso remédio para atenuar os efeitos do tempo, do sofrimento, do esquecimento. O senso de humor está presente em ambos.
Kubrusly: um caso de humor e vida
O diretor, Cavechini, lembrou que Kubrusly não foi um repórter convencional. Ele interferia na situação e interagia com os entrevistados, na maior parte das vezes usando humor ou tiradas surpreendentes que davam novo rumo às conversas. ‘Esse traço de originalidade do personagem tinha de estar presente’, diz o diretor. Daí, talvez, a vivacidade do filme, que se beneficia também da abundância de material de um personagem cuja carreira se deu em boa parte no âmbito da televisão. Trabalha tanto com imagens contemporâneas do entrevistado como com esse rico material de arquivo. Uma boa mescla, usada com sabedoria na montagem de um longa que, em seus quase 100 minutos de duração, não cansa jamais.
Kubrusly: um caso de amor e humor
Das imagens atuais de Kubrusly retém-se seu relacionamento divertido e carinhoso com a esposa e o encontro com artistas que foram importantes em sua trajetória como Gilberto Gil, Wandi Doratiotto e Luiz Tatit, entre outros. Kubrusly se entusiasma com músicas dos amigos, como se as ouvisse pela primeira vez. Ouve trechos de seus textos como crítico musical e se surpreende: ‘Eu escrevi isso aí?’. Gil responde: ‘Foi você e não foi você’. Gil é um sábio e nessa frase está toda a questão. A pessoa atingida por uma doença desse tipo é o seu eu antigo mas já não é mais. É quase um paradoxo ambulante, um desafio para seus familiares e amigos. O filme vale muito.
Fonte: @ Estadão
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