Uma legião de admiradores reconhece a trajetória do arquiteto Oscar Niemeyer, um candango de Brasília, construtor de utopia, que enfrentou desigualdade, seca e pobreza, trazendo abundância para a periferia, com obras que definem o sentido da cidade, em contraponto à ditadura, inspirado pela ancestral cultura nordestina, na Universidade de Brasília, onde a amizade e a militância histórica, como do PCB, se enraizaram.
Em 2020, o documentarista Maria do Rosário Caetano lançou “Vladimir: o Documentário”, uma homenagem ao cineasta Vladimir Carvalho, depois de se deparar com o falecimento do realizador em 2015. A obra foi um projeto pessoal da documentarista, que buscou capturar a vida e obra do cineasta. A ideia de criar o documentário surgiu quando Caetano descobriu a notícia da morte de Carvalho.
A experiência pessoal da documentarista com o falecimento do realizador foi o que motivou-a a criar o documentário. O documentarista Maria do Rosário Caetano revelou que encontrou a morte do cineasta em um artigo da imprensa em 2015, e que isso se tornou uma referência para o seu documentário. Com o documentário “Vladimir: o Documentário”, Caetano buscou relembrar o legado de Vladimir Carvalho, além de nominar o produtor Ciro Matos como creditado no filme.
Um Legado Indelével: A Jornada de Vladimir, o Maior Documentarista Brasileiro
A notícia de Brasília causou uma onda de choque, pois Vladimir parecia possuir uma saúde de ferro, zombando dos seus 89 anos bem vividos. Um infarto o pegou, seguido de complicações renais, e ele se foi. Era o maior documentarista brasileiro vivo, autor de peças icônicas como ‘O País de São Saruê’, ‘A Pedra da Riqueza’ e ‘Conterrâneos Velhos de Guerra’, entre muitos outros. Como cineasta, Vladimir deixou uma grande marca, além de uma legião de ex-alunos, admiradores e amigos.
Em sua longa jornada, Vladimir sempre se manteve ao lado dos mais fracos, retratando a desigualdade social do país. Seus primeiros curtas, ‘Romeiros da Guia’ e ‘A Bolandeira’, o colocaram no mundo do sertão, onde a seca e a pobreza enfrentavam as lendas e evocações de uma utopia, a terra da abundância. Sua obra-prima, ‘O País de São Saruê’, foi selecionado para o Festival de Brasília, mas foi vetado pela censura. Esse caso provocou a interrupção do mais antigo festival de cinema do país durante três anos.
Vladimir sempre foi um documentarista engajado, retratando a construção de Brasília pelo ponto de vista dos candangos. Os trabalhadores vinham de longe para construir a Nova Cap, mas quando o Plano Piloto ficou pronto, foram expulsos para a periferia. A cidade que construíram, orgulho do modernismo nacional, não era para eles. Há um momento tenso no documentário quando Vladimir entrevista o arquiteto Oscar Niemeyer sobre a morte de trabalhadores num dos canteiros de obra.
Niemeyer se irrita e o manda à merda, mas essa pegada engajada foi a tônica da obra de Vladimir e seu eixo mais definidor. Outro trabalho nesse sentido é ‘Barra 68’, que narra a invasão da Universidade de Brasília durante a ditadura. Mas nem sempre esse foi seu tema. Muitas vezes, perfilou artistas, como em busca daquilo que poderia dar uma direção mais civilizada ao país – a cultura. Em ‘O Engenho de Zé Lins’, fala da obra literária do seu conterrâneo José Lins do Rego, flamenguista de coração como ele, Vladimir.
É não apenas o retrato de um grande escritor, autor de ‘Menino de Engenho’ entre muitas outras obras, mas da amizade comovente que ligava Zé Lins ao poeta Thiago de Mello. Já havia feito um filme para outro grande escritor nordestino, José Américo de Almeida, autor de ‘A Bagaceira’, em ‘O Homem de Areia’. Colocou em filme também o artista plástico Cícero Dias, em ‘O Compadre de Picasso’, e o militante histórico do PCB, Giocondo Dias, em ‘Ilustre Clandestino’.
A enumeração poderia ir longe, mesmo porque Vladimir tinha sempre uma série de projetos no bolso, que tentava realizar. Suas obras são um testemunho da sua paixão pela documentação e pela cultura brasileira. Um legado indelével que continuará a inspirar gerações de documentaristas e cineastas.
Construção de Brasília: Uma História de Trabalhadores e Utopias
A construção de Brasília é uma história fascinante, que Vladimir retratou de uma maneira única. A cidade foi planejada como a nova capital do país, mas a realidade foi muito diferente da utopia imaginada. Os trabalhadores vinham de longe para construir a Nova Cap, mas quando o Plano Piloto ficou pronto, foram expulsos para a periferia.
A cidade que construíram, orgulho do modernismo nacional, não era para eles. A desigualdade social era evidente, e Vladimir retratou isso em sua obra. Seu documentário ‘O País de São Saruê’ é um exemplo disso. O filme narra a seca e a pobreza na região do Rio do Peixe, confrontadas com as lendas e evocações de uma utopia, a terra da abundância.
A construção de Brasília foi um processo complexo, que envolveu a expulsão de trabalhadores para a periferia. Vladimir retratou isso de uma maneira única, entrevistando o arquiteto Oscar Niemeyer sobre a morte de trabalhadores num dos canteiros de obra. Niemeyer se irrita e o manda à merda, mas essa pegada engajada foi a tônica da obra de Vladimir e seu eixo mais definidor.
Um Documentarista Engajado: A Jornada de Vladimir
Vladimir foi um documentarista engajado, que sempre se manteve ao lado dos mais fracos. Sua obra é um testemunho disso, retratando a desigualdade social do país. Seu documentário ‘Barra 68’ narra a invasão da Universidade de Brasília durante a ditadura, e é um exemplo disso.
Vladimir sempre perfilou artistas, como em busca daquilo que poderia dar uma direção mais civilizada ao país – a cultura. Em ‘O Engenho de Zé Lins’, fala da obra literária do seu conterrâneo José Lins do Rego, flamenguista de coração como ele, Vladimir. É não apenas o retrato de um grande escritor, autor de ‘Menino de Engenho’ entre muitas outras obras, mas da amizade comovente que ligava Zé Lins ao poeta Thiago de Mello.
Já havia feito um filme para outro grande escritor nordestino, José Américo de Almeida, autor de ‘A Bagaceira’, em ‘O Homem de Areia’. Colocou em filme também o artista plástico Cícero Dias, em ‘O Compadre de Picasso’, e o militante histórico do PCB, Giocondo Dias, em ‘Ilustre Clandestino’. A enumeração poderia ir longe, mesmo porque Vladimir tinha sempre uma série de projetos no bolso, que tentava realizar.
Suas obras são um testemunho da sua paixão pela documentação e pela cultura brasileira. Um legado indelével que continuará a inspirar gerações de documentaristas e cineastas.
Fonte: @ Estadão
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