Historiador faz palestra com referências à cultura afrodescendente em homenagem ao escritor, abordando o projeto de embranquecimento na sociedade brasileira e o exercício de investigação nos terreiros de umbanda.
No palco da 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, o historiador Luiz Antonio Simas apresentou uma palestra que ressaltou a importância da cultura afrodescendente na sociedade brasileira. Nesse contexto, ele destacou a figura de João do Rio, o escritor homenageado desta edição, e sua contribuição para a literatura brasileira. A obra de João do Rio é um reflexo da sociedade brasileira de sua época.
Simas também destacou a importância de João do Rio como um escritor e jornalista que viveu em um momento de grande transição na então capital federal, o Rio de Janeiro. Ele foi testemunha da mudança que ocorria na cidade e na sociedade brasileira, e sua obra reflete essa transformação. A literatura de João do Rio é um espelho da sociedade brasileira de sua época, com suas contradições e desafios. Como um escritor e jornalista, ele teve a oportunidade de registrar essas mudanças e refletir sobre elas em sua obra.
O Legado de João do Rio
No final do século XIX, após a abolição da escravidão em 1888 e a proclamação da República em 1889, a elite brasileira buscava implementar um projeto de embranquecimento racial, inspirado na sociedade e geografia de Paris. Esse projeto visava ‘limpar’ a cor da pele branca da população, trazendo imigrantes europeus para o país e apagando vestígios de culturas não-brancas. Nesse contexto, o escritor e jornalista João do Rio vivia entre o fascínio e o terror, o assombro e a atração pela sociedade brasileira.
A Investigação Jornalística de João do Rio
Segundo o historiador Luiz Antonio Simas, João do Rio transformou esse terror em um exercício de investigação jornalística, retratando a encruzilhada que marcava a vida social do Rio. Ele frequentava terreiros de umbanda e becos onde chineses negociavam ópio, além de visitar presídios femininos e contar histórias de vida a partir das tatuagens de homens aprisionados. Essa abordagem inovadora permitiu que ele alcançasse tanto a elite quanto as camadas mais populares, tornando-se um homem querido e respeitado.
O Legado Atual de João do Rio
O sucesso de João do Rio foi comprovado pelas imagens raras de seu velório e enterro em 1921, que contou com a presença de cerca de um quarto da população do Rio. Seu olhar, por vezes preconceituoso para os padrões atuais, registrava a morte de uma cidade para descobrir outra que nascia. Isso torna seus textos ainda atuais, pois o Brasil foi pensado como um projeto bem-sucedido de exclusão, o que torna comuns os ataques a corpos não-brancos. Com João do Rio, temos a chance de pensar o Brasil de 2024, considerando a construção de identidades e a importância da cultura afrodescendente na sociedade brasileira.
Fonte: @ Estadão
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