Programa duplo em tempo real sobre o fascismo, com afirmação feminina e LGBT+, dentro de certos paradigmas, como referência do programa.
Na Praia do Maceió, no dia 28 de setembro, o público assistiu a um programa duplo de filmes dentro da Mostra de Cinema de São Miguel do Gostoso, com a exibição dos longas-metragens Tijolo por Tijolo e O Deserto de Akin. Ambos os filmes tiveram sua estreia com público, mostrando a diversidade de gêneros e estilos presentes na mostra competitiva.
Um dos filmes em destaque foi o documentário Tijolo por Tijolo, que explorou a relação entre a construção de edifícios e a questão social. Já o filme O Deserto de Akin, de Bernard Lessa, é uma ficção que retrata a vida de um médico cubano em uma aldeia indígena no Espírito Santo. Com um elenco talentoso, o filme conquistou o público com sua narrativa envolvente e sua capacidade de abordar temas sociais de forma sensível. A presença desses filmes na mostra competitiva demonstra a habilidade do festival em atrair produções de alta qualidade e explorar diferentes estilos e gêneros, tornando-o uma plataforma para o cinema brasileiro se destacar.
Reflexões sobre o cinema brasileiro contemporâneo
A sessão terminou de madrugada, deixando um legado de emoções intensas. Começo pelo último filme, uma escolha inspirada pela necessidade de descobrir novidades. O Deserto, dirigido por Bernard Lessa, é uma obra que nos leva a refletir sobre a condição humana, especialmente nos tempos de mudanças políticas. O protagonista, o médico cubano Akin (Reinier Morales), é um homem dedicado ao seu trabalho, que contrasta com a brutalidade do mundo ao seu redor.
O tempo do programa Mais Médicos
Vivemos em um momento de transição, onde a dedicação do médico Akin aos seus pacientes é um testemunho da importância do trabalho humanitário. No entanto, essa mesma dedicação é desafiada pela brutalidade que se manifesta em outras áreas da vida. É como se estivéssemos vivendo em um ‘deserto’ onde a humanidade parece estar sendo esmagada. A referência ao fascismo é cáustica, lembrando-nos que a busca pelo poder pode levar ao abismo.
Um trio inseparável
A história segue o médico Akin e seus amigos, uma professora (Ana Flávia Cavalcanti) e um cozinheiro (Guga Patriota), que formam um trio inseparável. Juntos, enfrentam desafios e superam obstáculos, mostrando que, mesmo em tempos difíceis, a amizade e o apoio mútuo podem ser fundamentais. A trama aborda temas obrigatórios da produção brasileira contemporânea, como questões raciais, afirmação feminina e LGBT+, relações não-binárias, etc.
Limites da invenção
O problema é que essa abordagem muitas vezes se torna programática, limitando a invenção e a transgressão. O filme trabalha dentro de certos paradigmas, sem desafiá-los, o que pode levar a narrativas fluidas, mas também a uma falta de originalidade. A exceção é o filme Baby, de Marcelo Caetano, que demonstra que é possível criar algo novo e inovador. O médico cubano Akin, interpretado por Reinier Morales, é um exemplo de como a representação pode ser mais diversa e inclusiva.
Um toque documental
Algumas cenas do filme têm um toque documental interessante, emprestado de fotos do livro de Araquém Alcântara sobre o Mais Médicos. Essa abordagem nos lembra que a verdadeira beleza do cinema reside na capacidade de capturar a realidade de forma incrível. No entanto, é importante lembrar que o filme é uma obra de ficção, e não um documentário. A história de Akin é uma criação, e não uma representação exata da realidade.
Exceções e possibilidades
Resta saber se o público irá apreciar o filme, se sua excelência irá ‘colar’ junto a eles. A sessão foi muito aplaudida, mas é importante lembrar que a percepção é subjetiva. O documentário Tijolo por Tijolo, dirigido por Victória Álvares e Quentin Delaroche, é uma exceção, mostrando a vida de Cris Martins e sua família, moradores em Ibura, na periferia do Recife. A história de Cris é uma reflexão sobre a vida, a família e a busca por uma melhor condição de vida.
Fonte: @ Estadão
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