Filme de drama queer, roteiro bem talhado, com direção de arte destacada. Trilha sonora emotiva e edição de som cuidadosa, resultado de uma produção complexa.
O Festival Candango, que aconteceu em setembro, foi uma oportunidade para a sociedade ver a arte como uma forma de expressão, onde a inclusão é fundamental. A cerimônia de entrega do troféu Candango principal é um marco importante no calendário cultural nacional.
E a tríplice coroa é um feito que poucos filmes alcançam. Salomé, do pernambucano André Antônio, teve o seu trabalho de arte reconhecido em uma mostra de cinema nacional, demonstrando que a documentação da vida pode ser vencedora em qualquer contexto. Além disso, a receção do público foi recebido com entusiasmo pelo brasiliense, reforçando a importância da arte para a sociedade.
Mostra Brasília: um festival que merece ser lembrado
Além do mais, Salomé levou os troféus para o roteiro de um drama queer, bem talhado e denso, que conquistou o público e o júri. André Antônio, responsável pelo texto, recebeu a premiação por sua obra-prima. Estaremos diante de uma nova película nacional? Deixemos a pergunta pendente, enquanto celebramos a qualidade do cinema nacional.
Sucuarana, de Clarissa Campolina e Sérgio Borges, assegurou um simbólico segundo lugar ao acumular os troféus de melhor atriz coadjuvante, fotografia e montagem. Uma boa premiação para um filme complexo, bem talhado e que mereceu ser premiado. Se não venceu, não foi por falta de qualidade. O filme indígena Meu Pai, Kaiowá (MG) ficou com o troféu de melhor direção para Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lana, porém não me parece particularmente bem dirigido.
A surpreendente produção do DF, Pacto da Viola, de Guilherme Bacalhao, ficou com o prêmio de melhor ator, para o de fato ótimo Wellington Abreu, que foi merecidamente premiado. O mais arrojado de todos, A Fúria, de Ruy Guerra e Luciana Mazzotti, recebeu o Prêmio Especial do Júri, que, no Brasil, sempre parece um prêmio de consolação, não raro atribuído de má-vontade, e apenas para constar. Os cineastas sabem disso. O há pouco falecido Vladimir Carvalho, ícone do documentário brasiliense e brasileiro, dizia detestar receber prêmios especiais do júri. Na minha opinião, A Fúria era o filme que merecia o Candango principal, além do de melhor diretor para Ruy Guerra, esse veterano do Cinema Novo com seus 93 anos e ousadia de um jovem irreverente.
Mas os tempos não estão para filmes políticos, a não que tratem de políticas do corpo. Imagino que se Glauber Rocha submetesse Terra em Transe aos júris de hoje, correria o risco de sair de mãos abanando. A Mostra Brasília, destinada às produções do DF, consagrou Tesouro Natterer, de Renato Barbieri, que já havia sido recebido pelo festival de documentários É Tudo Verdade. Nesse segmento, A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão, venceu no júri popular. O mais criativo de todos, Nada, de Adriano Guimarães, ganhou direção, direção de arte, trilha sonora e edição de som.
O melhor curta brasileiro foi o pernambucano Mar de Dentro, de Lia Letícia, que também levou direção e Prêmio Zózimo Bulbul. Em resumo, premiações à parte, o Festival de Brasília conseguiu reunir filmes muito bons e estimulantes em suas diversas mostras. Ficará ainda melhor no ano que vem, quando, como prometeu a direção, voltará à sua data tradicional, o mês de setembro. Antecipando-se aos festivais gigantes, Festival do Rio e Mostra de São Paulo, em particular, terá material inédito mais vasto para trabalhar em suas curadorias.
Prêmios do Festival de Brasília
LONGA-METRAGEM BRASILEIRO. ‘Salomé’ (PE), de André Antônio – melhor filme do Júri e do Público, Prêmio Abraccine, roteiro (André Antônio), atriz coadjuvante (Renata Carvalho), direção de arte (Maíra Mesquita), trilha sonora (Mateus Alves e Piero Bianchi) e também o prêmio do Canal Like.
Fonte: @ Estadão
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