“A Cidade das Mulheres” rebate misoginia, resgata histórias de mulheres notáveis e aborda temas atuais como escrita feminina e defesa da igualdade dos sexos.
Com o passar dos séculos, o estigma sofrido pelas mulheres no século 15 ainda deixa marcas na sociedade contemporânea. No entanto, pesquisas históricas e relatos de mulheres como Christine de Pizan mostram que elas sempre buscaram superar obstáculos e provar seu valor em uma sociedade patriarcal.
Uma das principais pioneiras da literatura feminina, Christine de Pizan, abriu caminho ao publicar A Cidade das Mulheres em 1405, considerada a primeira obra feminista da história da literatura ocidental. A escritora, defensora da importância da instrução para as mulheres, também destacou a importância da prática e da defesa das ideias. Seu trabalho serviu de inspiração para muitas profissionais que seguiram seus passos, demonstrando que a igualdade de gênero é um direito conquistado com esforço e dedicação.
Um Legado de Escritora: A Vida e a Obra de Christine de Pizan
A escritora Christine de Pizan, uma figura feminina excepcional da Idade Média, nasceu em 1364, em Veneza, filha de Tommaso di Benvenuto da Pizzano, um médico e astrólogo da corte do rei francês Carlos V. Aos quatro anos, mudou-se para Paris, onde recebeu uma educação excepcional por tutores e teve acesso à rica Biblioteca Real da França, uma das coleções mais valiosas da época.
Apesar de ter se casado com o secretário do rei em 1380 e ter dois filhos e uma filha, Christine enfrentou uma série de desafios quando se tornou viúva aos 25 anos. Em vez de se casar novamente, ela decidiu manter a família e se sustentar com seu trabalho. E foi exatamente isso que ela fez, se tornando uma das primeiras escritoras profissionais da história.
Depois de começar a escrever poesias em 1390, Christine passou a outros formatos e produziu mais de 40 obras de diferentes gêneros literários e para públicos diversos. Entre suas obras destacam-se os livros de instrução moral para o cultivo das virtudes, guias políticos para membros da corte e a defesa do sexo feminino.
Segundo a professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ana Rieger Schmidt, no blog Mulheres na Filosofia, Christine foi uma escritora prolífica que se destacou por sua prática inovadora da escrita na Idade Média. Ela foi uma das primeiras mulheres a desenvolver a prática da escrita fora dos contextos monásticos, onde a educação religiosa vinha acompanhada de certa instrução.
Christine é considerada a primeira escritora profissional no Ocidente, pois não apenas escrevia, mas também editava e publicava seus próprios trabalhos. Além disso, ela se envolvia diretamente na confecção de seus livros, orientando copistas e artistas para ilustrar seus manuscritos e agindo como própria copista.
Uma das coisas que mais incomodava Christine era a maneira com que as mulheres eram tratadas nas obras da época, escritas quase que totalmente por homens. Isso parece ter inspirado a criação de A Cidade das Mulheres, em que ela questiona os motivos pelos quais os homens criticavam as mulheres de forma tão sistemática.
A obra de Christine de Pizan é um testemunho da sua inteligência, coragem e determinação. Ela foi uma verdadeira pionera em sua época e continua a inspirar mulheres e homens de todas as idades a valorizar a escrita, a prática e a defesa das mulheres.
Fonte: @ Estadão
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