O deputado federal Rogério Correia (PT) acusou o companheiro de partido Reginaldo Lopes de ‘atrevido’ por limitar orçamento da educação e saúde em eleição municipal.
No cenário político mineiro, uma tensão interna dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) ganhou destaque após as eleições municipais de 2020. O então candidato derrotado à Prefeitura de Belo Horizonte, Rogério Correia, emitiu uma carta aberta contra Reginaldo Lopes, também deputado federal e figura próxima ao presidente Lula. Nesta carta, ele acusou Reginaldo Lopes de ‘porta voz do mercado’ e de ser defensor de um ‘PT de centro’.
Este episódio coloca em foco a fragmentação dentro do próprio partido, com o candidato derrotado apontando para uma cisão entre duas alas do Partido dos Trabalhadores em Minas Gerais. Para Rogério Correia, a postura de Reginaldo Lopes seria antagônica aos princípios do partido. Em um contexto de eleição, essas divisões internas podem ter um impacto significativo na estratégia política do Partido dos Trabalhadores, afetando sua capacidade de apresentar uma frente unida em futuras eleições.
O Mal-Estar do Partido
As críticas fervilham em torno da falta de apoio de Lopes a Correia, um colega de partido que flertou com a candidatura de Fuad Noman desde a pré-campanha, em 2023. Na carta, Correia acusa Lopes de ‘relativizar’ as ‘bandeiras e compromissos’ do PT, ao mesmo tempo em que recebe aplausos da Fiemg, Fiesp e da fina flor do empresariado. Ele evoca a discussão inconclusa dentro do governo federal sobre o pacote de cortes de gastos, acusando Lopes de propor ‘arrocho fiscal’ ao querer ‘limitar as verbas de educação e saúde’, e conclui apelidando-o de ‘atrevido’. Rogério Correia e Reginaldo Lopes, ambos deputados do PT,
Partido em Crise
Questionado pela reportagem, a assessoria de Reginaldo Lopes se limitou a responder que ele ‘está muito ocupado com a luta pela redução da jornada de trabalho’, em referência à PEC sobre o fim da jornada 6 por 1, proposta pela deputada federal Erika Hilton (PSOL). Assim, está sem tempo de responder o seu colega Rogério Correia. Uma das principais lideranças do partido no Estado e recém reeleita prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), tem defendido um diálogo maior com o centro e vocalizado críticas ao que chama de ‘identitarismo’ no seu partido. Segundo interlocutores da prefeita, ela se sente deixada de lado pela ala ‘mais radical’ nas discussões estaduais da sigla.
Eleição Exigente
Comparando os resultados na capital e em Contagem, a análise do entorno de Marília é que ela focou nos temas mais importantes para a cidade, enquanto Correia apostou na polarização, ‘entrando no jogo’ de Bruno Engler (PL) e favorecendo a imagem de Fuad (PSD) como alguém equilibrado. Correia amargou resultado que o tirou da disputa pela prefeitura da capital mineira logo no primeiro turno, com apenas 55.393 votos (4,37%). O resultado é melhor do que o de 2020, quando Nilmário Miranda (PT) teve 23.331 (1,88%) dos votos válidos. Mas, naquela ocasião, a esquerda saiu dividida, e Áurea Carolina (PSOL) teve 103.115 (8,33%) dos votos. Em 2024, o partido indicou a vice de Correia, Bella Gonçalves (PSOL), em negociação que envolveu o próprio presidente. Comparando a soma dos votos nas duas chapas em 2020 com o resultado da coligação de 2024, foram 71.053 votos a menos.
Pré-Campanha e Discussão
Procurado pela reportagem, o diretório estadual do PT em Minas Gerais respondeu que as rusgas ‘fazem parte da democracia interna do partido’ e que ‘foi assim, com pensamentos divergentes e opiniões distintas, que o PT chegou a vencer 5 eleições nacionais e várias eleições a nível de estado e município’. O partido negou que houvesse qualquer posicionamento a favor do fim dos mínimos constitucionais da saúde e educação. Em relação ao balanço das eleições municipais deste ano, o diretório respondeu que ‘Minas foi o melhor desempenho [do partido] no país, ampliando de 27 para 35 prefeituras, ainda que não fosse o resultado que nós idealizamos’, sem fazer referência ao resultado pífio na capital.
Fonte: @ Estadão
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