Diário crítico do Clube das Mulheres no Festival de Gramado, reconhecido com Prêmio Especial pela Sociedade brasileira em 2024.
A 18ª edição do Cine BH está em andamento em Belo Horizonte, trazendo uma programação especial em homenagem à renomada cineasta Anna Muylaert. Essa é uma oportunidade única para os amantes do cinema se reunirem e celebrar a arte cinematográfica.
Além da homenagem à Anna Muylaert, o Cine BH também apresentará uma Mostra de Filmes com uma seleção cuidadosa de obras que prometem emocionar e inspirar o público. A Exibição de Cinema contará com a presença de convidados especiais e debates sobre as tendências atuais do cinema brasileiro. Com uma programação diversificada e atraente, o Cine BH é um evento imperdível para quem ama o cinema. Não perca a chance de vivenciar essa experiência única!
Cine BH: Uma Análise Profunda do Clube das Mulheres de Negócios
Após a entrega do troféu, a exibição do longa-metragem da homenageada, Clube das Mulheres de Negócios, foi um momento marcante. O filme, que já havia competido no Festival de Gramado e recebeu o Prêmio Especial do Júri, gerou uma grande discussão entre os críticos. Muitos o consideravam um dos favoritos do festival gaúcho, não apenas pela atualidade temática, mas também pela inventividade da realização. O filme trabalha com a inversão de clichês de gêneros, mas não se contenta com essa primeira crítica à sociedade machista. Vai além e incorpora elementos históricos e estruturais da sociedade brasileira.
O filme é exigente e complexo, como Anna Muylaert costuma dizer. Foi gestado ao longo da pandemia e do governo desastroso de Jair Bolsonaro, e leva as marcas da perplexidade e do caos. No entanto, desse caos, surgem movimentos que podem ser considerados progressistas, mas com dificuldades estratégicas para consolidar suas conquistas. É assim a dialética social, surpreendente e complexa.
Uma Obra de Cine BH que Desafia os Clichês
Clube das Mulheres de Negócios expressa um período em que a sociedade se move, talvez para um futuro mais civilizado e equânime, mas com os ânimos exasperados, de punhos cerrados, como costuma acontecer nas disputas por espaço. É um momento bélico, de ajuste de contas e as reconciliações, caso aconteçam, ficam para depois. Como inversão dos clichês de gêneros, o filme coloca-se como um espelho invertido. As mulheres que se reúnem no clube são poderosas, abusivas, autoritárias, algumas com problemas com a justiça, adoram armas de fogo, etc.
Os homens ocupam posição subalterna, passiva, dócil, subalterna. São maridos fracos, colocados à parte, enquanto as mulheres debatem negócios – e negociatas. Num clube de luxo, são servidas por rapazes bonitos, de shortinho, troféus sexuais. Uma dupla de repórteres – homens – é convocada para cobrir a reunião no clube e entrevistar as poderosas. A ideia, pelo menos, nessa fase inicial da obra, é colocar um espelho no qual os homens se vejam refletidos em todo o autoritarismo e desmandos típicos da sociedade machista.
Uma Obra de Cine BH que Vai Além dos Clichês
Seria um filme óbvio, caso ficasse apenas nisso. Por sorte, Anna Muylaert é uma cineasta de recursos, que não se contenta com pouco e não se limitaria a propor um retrato caricato de uma sociedade injusta pela via da inversão. Vai além do ponto de partida e evolui para uma obra que se desenvolve em outras direções e atalhos imprevisíveis. Melhora demais do meio para o fim, quando as próprias contradições das ‘empoderadas’ começam a colocá-las em xeque. Sem dar spoiler, pode-se dizer que a dimensão da obra se amplia para uma crítica geral do poder e de como a soberba no domínio sobre os outros e sobre a própria natureza pode levar a todos e todas ao caos. Também é uma obra de Mostra de Filmes que desafia os espectadores a refletir sobre a sociedade em que vivemos.
Fonte: @ Estadão
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