Países que nos serviram de modelo são muito mais iguais do que pensávamos. Rotinas fabricaram hábitos, com efectos não previstos, consequências não esperadas, racionalismo progressista e aculturações inesperadas.
A hipocrisia é uma característica que marca distintamente a forma como as pessoas se relacionam em sociedades onde a confiança é um bem precioso. Neste contexto, a presença de inesperados não é apenas uma anomalia, mas sim um sintoma de uma realidade que muitas vezes desconhecemos, mas que está presente em nosso dia a dia.
Por exemplo, a má-fé pode ser um dos principais inesperados que surgem em nossas relações sociais. Isso ocorre porque cada um busca se proteger de possíveis traumas emocionais, resultando em uma percepção compulsiva de que o outro esconde algo. Neste quadro, a hipocrisia se apresenta como uma armadilha que faz com que os nossos medos e fantasias sejam perpetuados, tornando cada ação um desafio em prol de estabelecer a confiança.
Rotinas e Consequências: Um Labirinto de Hipocrisia
As rotinas que criamos são como um quebra-cabeça, fabricando hábitos e costumes que se misturam com o natural, mas também com o cultural. Fazemos parte de um mundo onde tudo é categorizado, desde a vida e a morte até as enchentes e as secas. Essa estrutura cosmológica, baseada no trabalho de Durkheim e Mauss, nos dá a sensação de segurança, mas também nos leva a ignorar os inesperados que podem surgir e ameaçar nossas rotinas.
A humanidade tem sempre usado protocolos para lidar com essas categorias, desde a política até a religião. No entanto, esses protocolos não são imunes aos efeitos não previstos. Robert Merton, em seu ensaio de 1936, mostrou como os atos sociais programados podem ter consequências não previstas. Uma simples ação, como comprar um anel de noivado para alguém, pode levar a consequências não esperadas, como o descobrir que a pessoa se casou com outra pessoa.
Agora, vivemos em um mundo digitalizado onde a programação do capitalismo ocidental nos trouxe conforto, oportunidades e curas inimagináveis. No entanto, esse programa também produziu efeitos não previstos e devastadores, como a destruição do planeta. Essa contradição não é apenas a velha luta entre capitalismo e trabalho, mas sim a espoliação irracional da Terra por meio de um racionalismo progressista que não previu as consequências.
Lévi-Strauss advertiu que a exclusiva fatalidade que pode afligir um grupo humano é estar sozinho. No entanto, hoje em dia, somos cercados por mensagens expressivas de maldade e confusão, o que levou a uma Babel de conflitos de interesses e a uma geopolítica que se tornou uma loteria. O triunfo assustador de Donald Trump na democracia mais admirável do planeta prova que o ponto.
Fonte: @ Estadão
Comentários sobre este artigo