Atef Abu Saif, Autoridade Palestina, escreveu como forma de sobrevivência após bombardeios em Gaza, na Festa Literária Internacional, ao lado de Julia Dantas, vítima das enchentes do Rio Grande do Sul, em mesa sobre Diário da Pandemia e Diário da Enchente, na Cidade de Deus.
Em meio à guerra, é difícil encontrar inspiração para criar algo que não esteja relacionado à política. A guerra é um tema que permeia todos os aspectos da vida, tornando-se quase impossível ignorá-la. Para escrever um poema que não seja político, devo me afastar do barulho das armas e escutar os pássaros cantando em harmonia.
No entanto, mesmo quando tentamos escapar da realidade, o conflito está sempre presente. A batalha pela sobrevivência, o combate contra a injustiça, são temas que nos acompanham aonde quer que vamos. Mas é justamente nesse momento de guerra que precisamos encontrar a força para criar algo que nos faça lembrar da beleza e da paz. A arte é uma forma de resistência, e é através dela que podemos encontrar a esperança em um futuro melhor.
Guerra: O Som dos Pássaros Silenciados
A curadora Ana Lima Cecilio deu o tom da conversa entre o escritor palestino Atef Abu Saif e a gaúcha Julia Dantas, na Festa Literária Internacional de Paraty, ao ler um poema do palestino Marwan Makhoul. A mesa ‘Não existe mais lá’ buscou traçar paralelos entre a guerra em Gaza e as enchentes que assolaram Porto Alegre. Saif, autor de ‘Quero Estar Acordado Quando Morrer: Diário do Genocídio em Gaza’, foi ministro da Cultura da Autoridade Nacional Palestina e vive em Ramallah, na Cisjordânia.
Ele estava em Gaza a trabalho quando a nova guerra começou e só conseguiu deixar a região três meses após o início dos bombardeios. ‘Depois de uma semana, pensei: eu posso morrer. Tudo está ruindo ao meu redor. Nós conseguíamos sentir o cheio da morte. Isso não é nada metafórico’, disse ele. O diário foi a forma que Saif achou de lidar com o caos da guerra.
Conflito e Batalha: A Luta pela Sobrevivência
Julia Dantas, gaúcha de 39 anos, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, também usou o diário como forma de lidar com o caos. Ela fundou, em 2020, o blog ‘Diário da Pandemia’, que reuniu o depoimento de cerca de 200 pessoas. A iniciativa inspirou, neste ano, o ‘Diário da Enchente’, organizado pelos jornalistas Raphaela Donaduce Flores e Luís Felipe dos Santos. ‘As coisas precisavam ser ditas naquele instante. Na pandemia, tínhamos a ilusão de que duraria pouco. Na enchente, todo mundo estava perdido e desorientado. Eu, pelo menos, estava’, explicou.
A mesa foi marcada por alguns ruídos na tradução simultânea e uma tentativa de interrupção na plateia. Um homem deixou a tenda e disse que o problema das enchentes ‘acontece toda hora’ na Cidade de Deus, comunidade no Rio de Janeiro. Julia não interrompeu sua fala, mas logo comentou a situação e afirmou que muitos bairros e cidades da periferia do RS inundam todos os anos, mas que agora que a situação chegou também à classe média – e de forma tão colossal -, é que estão pensando em uma forma de resolver isso.
Combate e Resistência: A Luta pela Vida
Ambos os escritores ressaltaram que escrever foi importante nos momentos difíceis que enfrentaram. A guerra e as enchentes são exemplos de como a vida pode ser afetada por eventos catastróficos. A escrita foi uma forma de resistência e combate contra a adversidade. A mesa ‘Não existe mais lá’ foi um exemplo de como a literatura pode ser usada para discutir temas importantes e promover a reflexão sobre a condição humana.
Fonte: @ Estadão
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