As necessidades nos unem, opiniões nos separam. Invejamos a irracionalidade. Sintetizar ética, regenerar o estágio moral.
Alguém imagina que, no século XIX, o Marquês de Maricá elaborou 4.188 máximas, ou conselhos, intitulados ‘Máximas, Pensamentos e Reflexões’? Naquela época, as pessoas tinham disposição para absorver conselhos e refletir sobre eles.
Hoje em dia, podemos nos inspirar nessas orientações do Marquês de Maricá e aplicá-las em nossa vida. Suas sugestões e diretrizes ainda têm relevância e podem nos guiar em meio às incertezas do mundo moderno. É sempre valioso buscar conselhos de quem já viveu experiências enriquecedoras. Marquês de Maricá
Conselhos para a conduta ética e moral
Não estavam obcecadas pelas redes sociais, nem dominadas pelos algoritmos. Essas orientações foram compiladas por Álvaro Ferdinando de Sousa da Silveira, que as compartilhou na coleção de textos da Língua Portuguesa Moderna, publicada pelo Ministério da Educação e Cultura – Casa de Rui Barbosa, em 1958. É um conjunto de diretrizes proferidas por um pensador capaz de sintetizar, numa frase, algo que, se desenvolvido, resultaria em uma dissertação. Sugestões que incentivam o proceder ético e enaltecem a virtude. Certamente, não ecoam na juventude do tik-tok, reino da concisão irônica e da onomatopeia. No entanto, deveriam ser lidas e refletidas, caso haja interesse em regenerar o estágio moral de nossa convivência. Escolher apenas alguns, dentre os mais de quatro mil elaborados pelo Marquês de Maricá, não é tarefa simples. Mas vou me ater a alguns que possam contribuir para a reflexão sobre a conduta jovem. Por exemplo: ‘os maldizentes, assim como os mentirosos, acabam por não merecer crédito, mesmo quando falam a verdade. A modéstia realça os talentos, a vaidade os obscurece. Os abusos, assim como os dentes, nunca são removidos sem dor. Os soberbos são frequentemente ingratos; consideram os benefícios como tributos que lhes são devidos’. Prossigo: ‘nosso amor-próprio é tão exagerado em suas pretensões que não é surpresa se muitas vezes é frustrado em suas esperanças. Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas. Nobre e iluminada é a ambição que busca a sabedoria e a virtude. Quando o povo não confia na probidade, a imoralidade é generalizada’. Aqueles que buscam a felicidade a qualquer custo devem lembrar que ‘sem as ilusões de nossa imaginação, o capital da felicidade humana seria muito limitado e restrito’. Para quem considera a velhice como o auge da perfectibilidade humana, saiba que ‘os vícios nos idosos são inimigos fortificados que só a morte pode derrotar’. Enquanto isso, ‘o jovem dissoluto pode se corrigir, o idoso vicioso é incorrigível’. E ‘a juventude depravada acumula enfermidades para a velhice’. Aquele que acredita que a juventude é eterna não pode esquecer que ‘perdemos tempo, sempre nos queixando de que a vida é curta’. Quem não encontra semelhanças, ou seja, não reconhece alguém conhecido, ao ler que ‘os homens mais respeitados nem sempre são os mais respeitáveis’? Ou então: ‘Há homens que parecem grandiosos no horizonte da vida privada, e insignificantes no auge da vida pública’. Para aqueles que sempre têm a resposta pronta: ‘Com certeza!’, são tagarelas e abusam da verborragia, nunca é demais enfatizar que ‘o silêncio é o melhor salvo-conduto tanto da mais profunda ignorância quanto da sabedoria mais elevada’. O sábio Marquês de Maricá observou: ‘nossas necessidades nos unem, mas nossas opiniões nos separam’. E ‘em muitas ocasiões da vida, invejamos a irracionalidade de outros animais’. Se ‘a virtude é contagiosa, o vício é transmissível’. ‘A ambição sujeita os homens a uma servidão maior do que a fome e a pobreza’. Por isso, ‘há pessoas que se esforçam em alcançar o sucesso, mas negligenciam a importância da ética e da integridade’.
Fonte: @ Estadão
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