Caetano Veloso e irmãos trouxeram a turnê para São Paulo, lotando o Allianz Parque com religiosidade e sucesso.
O evento Caetano & Bethânia, realizado pela primeira vez em São Paulo na noite do dia 14 de setembro, apresenta uma rica tapeçaria de temas: a relação entre Caetano com sua irmã Bethânia, a influência da religiosidade em suas obras, e a celebração de seu sucesso juntos, contando também com elementos de parcerias musicais relevantes, construídas ao longo dos anos.
Além disso, o show Caetano & Bethânia reflete a dimensão íntima da parceria entre Caetano e Bethânia, irmãs que marcaram sua trajetória artística, desde sua infância até a consolidação de suas carreiras. A apresentação em São Paulo, marcada por uma noite de música e emoção, reforça a importância do legado dessas duas figuras do cenário musical brasileiro, que, ao longo dos anos, construíram um corpo de obra rico e diversificado. Com uma programação que aborda diversos temas, o show Caetano & Bethânia é uma experiência única e inesquecível.
Gesto de Maria Bethânia, 78 anos, em homenagem ao irmão Caetano Veloso
O poderoso gesto de Maria Bethânia, 78 anos, em se entregar completamente a uma grandiosa homenagem ao seu irmão Caetano Veloso é uma demonstração de generosidade, não por diferença de valor, mas sim por amor e respeito. O show que une os irmãos no palco é, na verdade, mais sobre Bethânia do que Caetano, demonstrando sua entrega total e sua capacidade de se abrir para o público. Eles não se encontravam no palco de forma tão grandiosa desde 1978, quando também excursionaram juntos. Caetano Veloso e Maria Bethânia apresentaram a turnê pela primeira vez em São Paulo, onde Bethânia, com sua gana de ter as rédeas bem firmes em suas mãos, abriu mão de alguns ritos e rituais para estar ali, por inteiro, como esteve esta noite no Allianz Parque, e como faz desde agosto, quando a série de shows se iniciou. Inclusive da feitura de mais um álbum de carreira, entre outras questões que moram nos bastidores.
Bethânia, sempre com sua personalidade forte, se despiu de suas personas e foi a irmã. Foi como se ela dissesse em silêncio: ‘veio comigo, vai voltar comigo’ – Caetano foi responsável por acompanhar a irmã ao Rio de Janeiro, em 1965, quando ela fez sua estreia no show Opinião. Pegando emprestado a religiosidade da cantora e todo seu sincretismo, Bethânia acolhe Caetano como Nossa Senhora, ou Oyá, a orixá do vento e dos raios. É um exemplo de como a irmã se apropria do carisma e da influência de Caetano, elevando-o a um papel de figura materna. Bethânia acolheu Caetano com uma mistura de respeito e autoridade, como se estivesse dizendo: ‘Este é meu irmão, e eu o protejo e o honro’. Esta postura de carinho e reverência é característica da relação entre os irmãos e é uma das chaves para a sua longevidade e sucesso.
Ainda é incerto o que Caetano, 82 anos, fará a partir de março de 2025, quando a turnê supostamente se encerrará. Assim como Milton Nascimento e Gilberto Gil, é provável que ele queira se exonerar dos grandes shows. Uma turnê oficial de despedida? Talvez. Se ela não ocorrer, Caetano e Bethânia terão sido um grande fecho para uma carreira brilhante. A marcha Alegria, Alegria, que apresentou Caetano ao grande público em 1967, se junta à Gente, canção na qual ele reverencia os seus e o povo brasileiro. A visão política-social sempre tão presente em seu repertório. No meio de ambas, Os Mais Doces Bárbaros, uma prova de boa intenção na invasão dos baianos na música popular brasileira. Os bárbaros contra os caretas, para ficar em uma expressão que Caetano adora.
O público de aproximadamente 40 mil pessoas que lotou o Allianz Parque assistiu a 60 anos passarem pouco mais de 2h30 de apresentação. Puderam perceber, em um roteiro bem amarrado, como Caetano e Bethânia se firmaram em conceitos sólidos daquilo que queriam transmitir ao público ao longo da carreira. E que ainda refletem o Brasil de 2024. Tropicália, cantada por Caetano, fala em ‘urubus que passeiam entre os girassóis’. Marginalia II, de Gil e Torquato Neto, na voz de Bethânia, relata que ‘aqui é o fim do mundo’ e temos ‘bananas para dar e vender’. Está tudo nas manchetes de jornais. E nas letras de rap e funk. Motriz é para dona Canô, a matriarca dos Veloso. Não Identificado era a canção preferida de seu Zeca, pai dos irmãos.
A reverência à religiosidade, algo herdado da família, começa com A Tua Presença Morena, passa pelo profano dos sambas de roda do Recôncavo Baiano, chega em Milagre do Povo, Dedicatória e Filhos de Gandhi, essa última, de Gil e para Gil no show. Caetano Veloso faz um set que é uma verdadeira homenagem ao seu legado e à sua influência no cenário musical brasileiro.
Fonte: @ Estadão
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