Professor de Ciência Política da Universidade de Chicago estuda há uma década a hegemonia do PCC e avanço de milícias no Brasil, com atuação beligerante e cadeia sofisticada.
RECIFE* – A hegemonia do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo garante a estabilidade do cenário criminal no estado, impedindo a ascensão de milícias, ao contrário do que ocorre no Rio de Janeiro. Enquanto o PCC mantém um controle firme sobre suas atividades, o Comando Vermelho (CV) e outras facções menores no Rio abrem brechas para a atuação de grupos paralelos, muitas vezes sob a justificativa de proteção à população.
Essa análise é compartilhada por Benjamin Lessing, professor de Ciência Política da Universidade de Chicago, especialista em fenômenos criminais na América Latina. Segundo ele, a postura menos beligerante do PCC em comparação com o Comando da Capital carioca dificulta a emergência de milícias em São Paulo, contribuindo para a manutenção da ordem no estado.
Primeiro Comando da Capital: Uma Facção em Ascensão
Criada há pouco mais de três décadas por um grupo de oito presos em uma penitenciária de Taubaté, no Vale do Paraíba, o Primeiro Comando da Capital (PCC) parece ter evoluído consideravelmente desde os episódios de ataques urbanos em São Paulo, como os ocorridos em 2006 e 2012. Atualmente, o PCC, com sua atuação beligerante e sofisticada, é apontado por pesquisadores e autoridades como uma força hegemônica do crime organizado no estado paulista.
Com o tráfico internacional como uma de suas principais atividades, o PCC conta com mais de 40 mil soldados espalhados por diversas regiões. A facção investe em uma cadeia sofisticada de envio de cocaína para continentes como a Europa, gerando lucros que chegam a incríveis R$ 1 bilhão ao ano, conforme dados do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).
Recentemente, a Polícia Civil investigou possíveis ligações entre antigos aliados políticos e o PCC, levantando suspeitas sobre trocas de carros de luxo por cocaína para a facção criminosa. Paralelamente, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP desencadeou uma operação contra agentes da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar, suspeitos de formar uma milícia para proteger comerciantes na Cracolândia, região central de São Paulo.
O pesquisador Lessing destaca a importância de estar alerta para a possível expansão das milícias, embora, até o momento, a hegemonia do PCC e a redução da letalidade policial tenham dificultado seu avanço. No entanto, ele ressalta que o Brasil está passando por um processo de ‘faccionalização’, com organizações criminosas como o PCC absorvendo gangues menores e consolidando sua presença no cenário nacional.
Além disso, o pesquisador comenta sobre o avanço do crime organizado em países como Colômbia e El Salvador, onde medidas repressivas têm sido adotadas. O PCC, juntamente com outras facções como o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro (TCP), continua a desempenhar um papel significativo no cenário do crime organizado, tanto no Brasil quanto internacionalmente.
Fonte: @ Estadão
Comentários sobre este artigo