Padres ultraconservadores somam 9 milhões de seguidores no Instagram.
O relatório da Polícia Federal revela detalhes sobre a suposta tentativa de golpe de Estado, que envolveu figuras proeminentes, incluindo políticos e clérigos católicos. A investigação, que resultou no indiciamento de Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas, aborda a atuação ultraconservadora de membros da Igreja Católica.
A documentação detalha as ações de quatro clérigos católicos, incluindo o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, que foi indiciado, bem como os padres Paulo Ricardo de Azevedo e Genésio Lamounier Ramos e Gilson da Silva Pupo Azevedo, conhecido como frei Gilson, uma figura popular na internet. Esses clérigos foram envolvidos em uma tentativa de golpe de Estado, demonstrando uma conexão entre a Igreja Católica e as ações políticas extremas.
Padres e Golpes: Uma Parceria Perigosa
Os golpes de Estado não são novidade, mas quando envolvem figuras religiosas, como os padres Golpe, a situação se torna ainda mais perigosa. No caso específico, três padres se destacam por sua atuação em favor do golpe de Estado, com um total de quase 9 milhões de seguidores no Instagram.
A rede de atuação desses padres é vasta e inclui organizações internacionais de direita e políticos bolsonaristas. O padre Golpe José Eduardo de Oliveira e Silva é um dos principais alvos da operação da Polícia Federal, sendo citado 74 vezes no relatório da PF.
Juntos, os padres Golpe têm uma base formada por anos de pregação em plataformas de streaming, cursos e palestras. Alguns deles se destacam por sua relação com organizações internacionais de direita e políticos bolsonaristas.
O padre Golpe José Eduardo esteve em Brasília entre novembro e dezembro de 2022, na construção do documento que embasaria a fundamentação da ruptura democrática. A defesa do padre diz que as provas apresentadas não corroboram as ilações contra ele contidas no relatório.
Em 3 de novembro daquele ano, José Eduardo enviou a Frei Gilson via WhatsApp uma espécie de oração ao golpe, pedindo que todos os brasileiros, católicos e evangélicos, incluíssem em suas orações os nomes do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e de outros dezesseis generais, para que Deus lhes desse a coragem de salvar o Brasil.
Sucesso de audiência, o canal do YouTube de Gilson tem 5,7 milhões de inscritos, e a entrevista que deu em outubro ao canal do estúdio Brasil Paralelo atraiu meio milhão de pessoas. Gilson também vem participando e divulgando eventos da Canção Nova, grupo conservador da Igreja Católica que tem proximidade com a Brasil Paralelo.
A relação entre ambas, no entanto, chamou a atenção do Observatório da Comunicação Religiosa (OCR), ligado ao Diretório da Comissão de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O OCR emitiu uma nota em setembro criticando a parceria entre a TV Canção Nova (Estúdio Anuncia-me) e o estúdio.
Padres conservadores têm lançado mão de cursos, oficinas, palestras e até de uma plataforma de streaming para difundir suas ideias e alcançar maiores públicos. No site Fé Explicada, por exemplo, José Eduardo ensina confissão e moral cristã. Na Lumine, a ‘Netflix católica’, Paulo Ricardo é o astro de um documentário sobre o sentido da vida.
Paulo Ricardo é definido pelo próprio José Eduardo como militante contra a descriminalização do aborto. Em especial no capítulo sobre a elaboração do decreto golpista, o relatório da PF destaca a relação de proximidade entre José Eduardo e Filipe Martins, que trabalhava no Palácio do Planalto.
Em julho de 2020, José Eduardo enviou um e-mail ao assessor de Bolsonaro dizendo conhecer a posição do então presidente em defesa da vida e contra o aborto e que, por isso, ele e o padre Paulo Ricardo, que estão há anos trabalhando juntos, estavam dispostos a ajudar no processo.
Fonte: @ Estadão
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