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Músico evita encontros, recusa entrevistas, exceto para shows e netos. Coluna conversa com próximos sobre eleições, tentativa de golpe, atuação da Agência Brasileira, ligações perigosas e escândalo.
A Polícia Federal antecipa muita agitação, até as eleições de outubro, na trama da Abin paralela. Não por acaso: ao cruzar evidências obtidas no inquérito que investiga a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 com o material apreendido nas diligências sobre a atuação da Agência Brasileira de Inteligência, agentes da PF descobriram conexões perigosas entre os dois casos. A investigação segue em segredo, mas os agentes estão convencidos da participação do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin, e do ex-presidente Jair Bolsonaro em um plano para subverter o estado democrático de direito após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para a PF, as atividades iniciaram com a espionagem ilegal de opositores políticos de Bolsonaro pela Abin, entrelaçaram-se com milícias digitais e incluíram nesse contexto a proteção dos filhos do então presidente. Tudo indica, até o momento, que um novo escândalo está prestes a eclodir próximo das eleições municipais devido ao avanço das investigações sobre a atuação da Agência Brasileira de Inteligência.
Abin: Agência Brasileira de Inteligência
Ramagem é o candidato do PL à prefeitura do Rio, com aval de Bolsonaro, que também apoia o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), em sua campanha por um segundo mandato. Ramagem buscou Lira para comunicar que nunca o espionou. Quando a Operação Última Milha, desencadeada pela PF, ampliou as suspeitas sobre a Abin e deteve cinco pessoas, no mês passado, Ramagem procurou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é seu amigo. Em uma reunião privada, assegurou a ele que nunca o espionou. O presidente da Câmara afirmou a interlocutores não ter motivos para desconfiar de Ramagem. A quarta fase da Última Milha – nomeada em referência ao equipamento de espionagem First Mile – expôs, no entanto, detalhes de ações clandestinas da Abin contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares e até jornalistas. Entre 2019 e 2022, cerca de 1,5 mil telefones foram alvo de bisbilhotagem paga com dinheiro público. O sistema First Mile, na realidade, era apenas um dos sistemas utilizados pela ORCRIM (organização criminosa) e os altos gestores tinham pleno conhecimento de seu uso, conforme relatório da PF enviado ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso na Corte. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, declara não existir motivo para a prisão de Bolsonaro: ‘Se isso acontecesse, ele elegeria até um poste’. Procurados, Bolsonaro e Ramagem optaram por não se pronunciar. Nos bastidores, aliados do ex-presidente demonstram preocupação com o impacto de um novo escândalo, às vésperas das eleições, após ele já ter sido indiciado no caso da venda das joias que ganhou de governos estrangeiros, como revelado pelo Estadão. Até o momento, o PL não cogita substituir Ramagem na chapa. O deputado afirma que, se existiu uma Abin paralela, não teve qualquer envolvimento. No entanto, e-mails redigidos por ele, sugerindo uma ‘atitude belicosa’ a Bolsonaro, apontam para outra direção. Ricardo Nunes, por sua vez, promete não esconder o ex-presidente. Tem, no entanto, um argumento pronto para escapar dessa situação delicada: ‘Não quero tornar a campanha nacional’. Sempre que questionado sobre as investigações, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, vai além e afirma não enxergar motivos para a prisão de Bolsonaro. ‘Se isso acontecesse, ele elegeria até um poste’, especula. Será? Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay…
Fonte: @ Estadão
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