Lacração é linguagem agressiva, mas com um toque de graça, sinal de inteligência, que deixou para trás a tolerância pacifista, vista como fraqueza.
Uma tarde inesperada, eu estava fazendo uma caminhada pela orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, quando alguns amigos cariocas me convidaram para um almoço no restaurante local, conhecido por sua comida saborosa e ambiente agradável. No entanto, logo percebi que o serviço era desigual, em especial com os atendentes, que pareciam ter um humor mal-humorado. Na verdade, eles eram sinceros em sua grosseria, o que me fez questionar o porquê de alguém escolher ir a um lugar, sabendo que seria tratado mal, para mim, uma atitude muito estranha.
Eu disse a eles que estranhava ir a um lugar para ser tratado de forma rude. Isso me fez refletir sobre os gostos eleitorais cariocas. Eu não sou um especialista em tudo, mas posso dizer que a população do Rio de Janeiro é composta por pessoas com gostos muito diferentes. Mas, por que escolher ir a um restaurante, sabendo que o serviço será ruim? Isso é algo que eu não entendo. Talvez seja um jeito de passar tempo com amigos, mas, para mim, não parece ser a melhor escolha. Em vez disso, eu prefiro escolher lugares que oferecem um humor agradável e um ambiente acolhedor. Isso torna a experiência de comer fora mais agradável.
Humor Nacional: Um Fenômeno Comum
Bem, para ser justo, com ou sem garçons azedos, o voto masoquista é um fenômeno nacional. O humor, especialmente o humor mal-humorado, pode ser charmoso quando direcionado contra um desafeto, e achamos perfeito. Professores costumam comentar durante o intervalo alguma resposta cortante dada a um aluno insolente. Os colegas, afligidos pelo mesmo discente, aplaudem. Claro… isso não ocorre na sua escola, só nas ruins. Suspeito que algo semelhante desponte entre os alunos no pátio. Frases amargas, mal-humoradas, irônicas: tudo faz parte da linguagem passivo-agressiva que grassa no ambiente acadêmico de todos os níveis.
A Linguagem da Lacração: Um Sinal de Inteligência?
A resposta rápida e ácida tornou-se, agora, ‘lacração’. Deixou de ser apenas mau humor. Linguagem agressiva, com algum toque de graça, é vista como sinal de inteligência. A tolerância pacifista é associada à fraqueza. A raiz da palavra tolerar confirma: sofrer resignadamente. Ruy Castro teve a excelente ideia de reunir em livros frases duras. A acidez é divertida em O Melhor do Mau Humor, O Amor de Mau Humor e O Poder de Mau Humor (Cia. das Letras).
Um Guia Rápido para Existir em Confrontos
Quem lê talvez busque alguma pista para se sair bem nas discussões e enfrentamentos. É um guia rápido para existir em confrontos. As frases coletadas podem sair do gênio crítico de Nelson Rodrigues: ‘Quando o sujeito é uma besta e não é capaz de fazer nada, faz filhos’. Desponta a melancolia quase filosófica de Otto Lara Resende: ‘A morte é o clube mais aberto do mundo’. Milton Campos, passando mal durante um voo, foi indagado se ‘sentia falta de ar’.
Enfrentamentos: Da Filosofia à Vulgaridade
Respondeu que não, ‘sentia falta de terra’. Há clara misoginia na ideia de Oscar Wilde: ‘Um homem pode ser perfeitamente feliz com qualquer mulher – desde que não viva com ela’. O máximo do pessimismo cósmico está na pergunta de Aldous Huxley: ‘E se este mundo for o inferno de outro planeta?’ Por fim, combinando todo o mundo crítico e resvalando para a vulgaridade, o Planeta Diário lasca: ‘A Bolsa de Valores é algo assim como uma suruba em que você entra com a bunda’. Desconfio de que o magnetismo do mau humor seja triplo.
Inteligência, Masculinidade e a Aura de Verdade
Primeiro – indicaria certa inteligência nas respostas. Pessoas capazes de usar a retórica agressiva ou cáustica costumam ser vistas como mais brilhantes do que os ‘bonzinhos’. O otimismo, aliás, brilha mais nas frases das tias de idade no grupo da família, todavia ninguém parece ser muito admirador da personalidade do ‘copo meio cheio’. Voltaire ironizou a positividade na obra Cândido, ou o Otimismo. Na obra, a visão rósea da personagem é um defeito diante do real. O segundo elemento magnético está no protagonismo ou até na masculinidade contida na resposta dura e azeda. Machos antigos se socavam ou lutavam com espadas. O enfrentamento era físico. Os contemporâneos se agridem com palavras. Diplomacia surge como falta de testosterona. ‘Não tenho sangue de barata’ virou afirmação de alfa. O mau humor contém uma aura de verdade, sem cinismo. Hipócritas douram a pílula. As pessoas que dizem o que pensam, mesmo de forma tosca (usualmente crianças, alcoolizados e idosos), causam,
Fonte: @ Estadão
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