Conversas de Mário Fernandes demonstram empenho pessoal na trama golpista, que malogrou.
Em um contexto de ampla estratégia para desestabilizar o Estado de Direito e consumar um golpe de Estado em 2022, o general de brigada da reserva Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Presidência no governo Jair Bolsonaro, manteria intensas negociações com dois colegas de farda, a quem passava sua estratégia para a ruptura democrática.
Essas tratativas, motivadas por interesses pessoais e antidemocráticos, demonstram claramente a intenção criminosa de parte de uma organização, cujo objetivo é impor uma abolição das regras e direitos democráticos por meio de uma ação violenta e ilegal. Esse cenário, caracterizado por um golpe de Estado, não apenas ameaça o Estado de Direito, mas também mina o tecido social e a estabilidade democrática de um país, promovendo uma ruptura democrática que pode ter consequências graves e duradouras.
Uma coalizão de golpistas
Mário Fernandes, um dos aliados de Jair Bolsonaro, era um homem empolgado com o seu plano de golpe de Estado. No entanto, o plano acaba malogrando e os aliados de Fernandes respondiam com igual intensidade: ‘o golpe é o cacete’, ‘quatro linhas da Constituição é o caralho’, ‘vai dar uma guerra civil’, ‘o alto comando do Exército tem que acabar’.
Operação Contragolpe
Preso na terça-feira, 19, na Operação Contragolpe – investigação sobre o plano de assassinato do presidente Lula, de seu vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) -, Mário Fernandes é apontado pela Polícia Federal como um radical. O teor de suas conversas indica que ele tem um perfil radical. As defesas indiciados no inquérito do golpe de Estado tem sinalizado que só vão se manifestar em detalhes após analisarem a íntegra do relatório de 884 páginas que levou aos enquadramentos por golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Plano de envenenamento
Em oitiva em fevereiro, Fernandes disse que contribuiria com as investigações, mas só após ter acesso à íntegra do inquérito. Ao Estadão, um dos interlocutores do general, o coronel Roberto Criscuoli negou participação no plano para assassinar o presidente Lula em 2022. Com ele os investigadores encontraram rascunho do audacioso plano de envenenamento de Lula e eliminação de Moraes à bomba, além de uma minuta de ‘gabinete de crise’ que seria formado por militares escalados para a missão de ‘pacificar’ o País após o golpe que não ocorreu.
Narrativa golpista
Segundo a PF, Mário Fernandes externalizava explicitamente suas intenções antidemocráticas. Os investigadores recuperaram diálogos do general com os coronéis Roberto Raimundo Criscuoli e Reginaldo Vieira de Abreu, o ‘Velame’. Nessas conversas, o grupo cita outros investigados ou personagens-chave da tentativa de golpe, como o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que não embarcou na narrativa golpista. Também é citado o ex-ministro Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública) e uma suposta interferência para investigar uma denúncia de fraude nas urnas, ‘blindando ao máximo’ Bolsonaro.
Crise de poder
‘O pessoal ia fazer uma reunião essa semana, o comandante do Exército, aí chegou Paulo Guedes, chegou o pessoal da TCU, da AGU, aí não pode, tem esse pessoal, é…Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião’, disse Velame. ‘Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata mais agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus.Vai dar uma guerra civil’, declarou Criscuoli.
Atitude de Bolsonaro
‘Eu creio que o presidente deve se posicionar que aceita o resultado, pararí, parará e depois com as repercussões, tanto o povo na rua quanto essas denúncias, ele tomar uma outra atitude. Para não se queimar, para não ser denunciado’, disse Criscuoli.
Fonte: @ Estadão
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