Economistas dizem que novo nome testa autonomia do Banco Central e compromisso com meta de inflação. Gabriel Galípolo foi o escolhido pelo presidente da República.
A nomeação do economista Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo amplamente discutida. Ex-diretores do Bacen ouvidos pelo Estadão acreditam que essa escolha representa um desafio para a autonomia da instituição e para a manutenção da meta de inflação. Se confirmado pelo Senado, Galípolo terá o desafio de garantir que as decisões de política monetária sejam baseadas em dados e evidências, mesmo com sua proximidade com Lula, o que pode ser tanto uma preocupação para o mercado financeiro quanto um trunfo na interlocução com o governo.
Segundo os especialistas, a indicação de Galípolo não foi uma surpresa para o mercado. O economista terá a missão de conduzir o Banco Central em um momento crucial para a economia brasileira, buscando equilibrar as demandas políticas e econômicas. A relação próxima com Lula pode ser um fator determinante para o sucesso de Galípolo como presidente do BC, mas também traz desafios que precisarão ser superados com habilidade e competência.
Banco Central: Gabriel Galípolo e a nova presidência
Desde sua indicação à diretoria do BC, há pouco mais de um ano, havia a suspeita (não uso a palavra por acaso) que se tratava apenas de um degrau para a presidência da instituição, repetindo, diga-se, a trajetória seguida por Alexandre Pombini (perdão, Tombini). A ausência de surpresa é a única faceta positiva da escolha. Ao contrário de antecessores como Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, não se trata de um macroeconomista de sólida formação acadêmica, com passagens relevantes por departamentos importantes de Economia e pelo setor privado. Em oposição a Roberto Campos Neto, não tem uma longa carreira em mesa de operações. Diferentemente de Henrique Meirelles, não chegou ao cargo para emprestar sua credibilidade à escolha. Sua principal, senão solitária, qualidade é a proximidade ao presidente da República e ao ministro da Fazenda, forjada nos últimos anos, à sombra da parceria com Luiz Belluzzo, economista de igualmente escassa qualidade técnica. Isto gera custos consideráveis. Face à desconfiança de indicação política para a posição, terá de se mostrar mais realista que o rei, ou seja, ainda mais duro em termos de política monetária que o próprio Roberto Campos. Por outro lado, não tem a estatura que o permita se contrapor a Lula quando este se sentir, como tantas vezes se manifestou, incomodado com o nível da taxa de juros. Como vai se equilibrar entre dois senhores, ainda não sabemos. Se ficar no meio do caminho (ou de seu lado político) haverá pressões sobre dólar, expectativas inflacionárias e juros longos. Nada que não tenhamos visto durante o Pombinato, não exatamente o ponto mais brilhante de condução de política monetária nos últimos 30 anos.
Banco Central: Gabriel Galípolo e a continuidade da gestão
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho de administração da Jive Investments, destaca que a nomeação de Gabriel Galípolo à presidência do BCB representa um novo teste à autonomia do Bacen. Sua trajetória como diretor de política monetária foi marcada por aprendizados, tanto técnicos quanto em experiência prática. Ele virá na esteira de um governo cujo presidente desafia recorrentemente a autonomia do banco central. Em maio passado, ele, junto aos outros três diretores indicados pelo governo de Lula, tiveram a sua credibilidade reduzida, devido à votação em divergência dos outros membros do Copom, para reduzir 50 pontos (0,5 ponto porcentual) ao invés de 25 (0,25 ponto). O resultado foi uma enorme crítica e uma importante piora nas expectativas de inflação. O BCB, sob a gestão do RCN (Roberto Campos Neto) avançou muito, não apenas na política monetária e cambial. Modernizar e ampliar a concorrência no ecossistema financeiro, bem como dos produtos financeiros, além de, no final, ampliar o acesso ao sistema para uma grande parcela da população que não era bancarizada, foi um grande feito dessa gestão, para a instituição. Por isso, a meu ver, o desafio do novo presidente não se limita à manutenção do controle inflacionário, mas também à continuidade dessa agenda tão importante e crucial para o mercado financeiro.
Fonte: @ Estadão
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