Um estudo qualitativo do Instituto Travessia encontrou que a aparência de políticos molda a percepção dos eleitores, com estereótipos físicos influenciando as escolhas.
A modernidade não é um obstáculo para a formação de preconceitos. A imagem de um homem branco, próximo dos 60 anos e vestido com traje social, bastou para Cíntia, de 33 anos, dar o seu veredito: ‘Tem cara de corrupto. Daqueles políticos que roubam merenda’.
Essas impressões não surgiram ao acaso. A percepção de Cíntia e Ivanildo, de 50 anos, se encaixa na realidade de um país onde 70% das pessoas acreditam que os políticos são corruptos. E eles não estão sozinhos nessa opinião. Eleitores nas eleições de 2022 optaram por candidatos que prometeram combater a corrupção, como Haddad, que foi eleito presidente de São Paulo. Ao lado dela, o seu Ivanildo também se arriscou no palpite: ‘Não é do tipo de político que se preocupa com os mais pobres’.
Como a Aparência dos Políticos Influencia a Percepção dos Eleitores
Uma pesquisa qualitativa realizada pelo Instituto Travessia e acompanhada pelo Estadão revelou como a aparência dos políticos pode moldar a percepção dos eleitores. Ainda que a imagem seja o único dado disponível, os participantes desse experimento tiveram que descrever as suas primeiras impressões sobre as figuras apresentadas. Essas reações revelaram como traços físicos e escolhas de vestuário reforçam estereótipos e, consequentemente, influenciam a forma como as pessoas veem os políticos.
A pesquisa, realizada pela jornalista Deniza Gurgel como parte de sua dissertação de mestrado no IDP, apresentou a um grupo de dez participantes 10 perfis de pessoas desconhecidas apresentadas como políticos. Sem qualquer informação adicional além da imagem, a tarefa era simples: descrever as primeiras impressões que aquelas figuras despertavam. E foi exatamente o que aconteceu.
O estereótipo do político tradicional, simbolizado por um homem branco, entre 50 e 60 anos, vestido de terno e gravata, foi o que provocou maior reação negativa. Para o grupo, essa imagem transmiteda a ideia de um político corrupto, a favor do dinheiro e que não se preocupa com os pobres. Rótulos como ‘cara de corrupto’, ‘a favor do dinheiro’ e ‘não se preocupa com os pobres’ foram lançados assim que a foto foi exibida em uma tela de televisão. Termos como ‘ladrão’ e ‘antiquado’ também vieram à tona.
A divisão por meio da identificação ideológica do homem foi notável. Para metade dos participantes, a figura deveria estar associada a um político de direita; para a outra metade, trazia características associadas à esquerda. Já o perfil de um homem de meia-idade, vestindo camisa polo e com porte atlético, foi rapidamente relacionado ao movimento armamentista e à nova política. ‘Não usa camisa social para parecer moderno’, avaliou uma eleitora. Outro participante foi mais incisivo: ‘Tem cara de que, se pudesse, matava todos os bandidos’. Para a maioria, o perfil simbolizava a direita, encaixando-se facilmente no grupo dos defensores da família e da ordem.
A combinação de blazer com camiseta, vista como um equilíbrio entre formalidade e modernidade, foi a escolha de Lula em boa parte de sua campanha de 2022. E não por acaso, essa foi uma das opções mais agradáveis para os homens. A combinação de blazer com camiseta foi vista como um equilíbrio entre formalidade e modernidade, uma combinação que Lula usou em boa parte de sua campanha de 2022.
Curiosamente, roupas mais despojadas transmitem uma percepção maior de competência e modernidade nos homens. São aqueles que mantêm um estilo sofisticado, mas com toques de contemporaneidade. O blazer, por exemplo, pode transmitir uma imagem de confiança e respeito, mas também pode ser visto como antiquado. Já a camisa polo pode ser vista como um símbolo de modernidade e competitividade.
A pesquisa revelou como a aparência dos políticos pode moldar a percepção dos eleitores e como estereótipos são reforçados por traços físicos e escolhas de vestuário. A forma como os políticos se vestem pode influenciar a forma como os eleitores os veem, e isso pode ter consequências importantes nas eleições.
Fonte: @ Estadão
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