Cinematografia Ibero-americana 2024: longas-metragens que exploram metalinguagem, capturando a vida com câmera descompassada, alterando comportamento sem rumo.
Apesar de estrear em 2020, o longa-metragem A Bachata do Biônico ainda não foi lançado no Brasil, mas a sua exibição no festival de cinema de Fortaleza demonstra que o filme já conta com um grande apoio, seja por parte de produtores ou distribuidoras interessados. A surpresa de encerrar a mostra competitiva foi apresentada no dia 6 de junho de 2023, no Teatro do Sesi.
Uma Comédia Maluca no Mundo do Cinema
O filme A Bachata do Biônico, dirigido por Yoel Morales, é uma obra inclassificável que se destaca no contexto do cinema contemporâneo, especialmente como último concorrente da mostra de longas-metragens ibero-americanos. É uma comédia caótica e descompassada que se ambienta em becos e cortiços, povoada por personagens viciados em crack e outras substâncias, e entrelaçada com a história de amor entre o Biônico do título (interpretado por Manuel Raposo) e Flaca (Magrela), uma jovem internada em uma clínica de reabilitação. O filme também flerta com a metalinguagem, apresentando um documentário em andamento no qual o Biônico é o protagonista e a câmera acompanha sua vida e a de seus amigos, o que explora como a presença de uma câmera pode alterar o comportamento dos filmados. Isso resulta em uma experiência visual febril e caótica, com planos rápidos e uma montagem fragmentada. Embora a sucessão de gags nem sempre cause risos, a sensação de desalento que se instaura é mais intensa do que a graça.
Um Filme Dentro do Filme
Ao longo da narrativa, é possível perceber um filme dentro do filme, o que permite ao público uma reflexão sobre a presença de uma câmera e como ela pode alterar o comportamento dos personagens. A câmera, portanto, não apenas acompanha a vida do Biônico e de seus amigos, mas também se torna um elemento que desafia a noção de realidade e começa a alterar a dinâmica social daqueles que estão sendo filmados. No entanto, é importante notar que o filme não é apenas um exercício de metalinguagem; ele também lança um olhar não preconceituoso sobre indivíduos marginalizados, demonstrando uma compreensão empática e não estereotipada dessas pessoas. Quando o ritmo finalmente se acalma e a narrativa chega ao seu clímax, o filme lança uma reflexão sobre a descompassada vida dos personagens e como a sociedade os vê.
Lançando um Olhar sobre os Marginalizados
A Bachata do Biônico é um filme que se destaca por não ser abusivo com relação às pessoas marginalizadas, evitando caricaturas e estereótipos. O filme também se distingue por não ser moralista, algo raro em um momento tão carola e hipócrita. Os diálogos são francos e diretos, especialmente quando abordam temas como drogas e sexualidade, o que torna o filme ainda mais autêntico. Além disso, a mistura entre atores profissionais e personagens reais é um dos pontos mais interessantes do filme, destacando a realidade das situações retratadas. Embora possa não ser fácil de assistir, o filme é uma reflexão sobre a vida marginalizada e a importância de ver além dos estereótipos.
Uma Aura de Rebeldia
A Bachata do Biônico tem uma aura de rebeldia que pode dialogar intensamente com o público jovem, especialmente aqueles que buscam filmes que façam reflexões profundas sobre a sociedade. Com sua linguagem desbocada e seu tom de rebeldia, o filme é uma obra que se destaca, mesmo em um contexto de cinema marginal. É um filme que não se preocupa em ser fácil de entender ou aceitar; ele busca ser autêntico e refletir a realidade marginalizada da sociedade.
Fonte: @ Estadão
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