Cinco municípios com maior valor da produção agropecuária têm siglas do Centrão como favoritas, enquanto dois apresentam polarização entre Lula e Bolsonaro.
No interior de São Paulo, o Centrão é a força política que mais se destaca nas principais cidades do agronegócio paulista. Enquanto a disputa entre os candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é intensa em outras regiões, o Centrão lidera as pesquisas de intenções de voto nesses municípios.
Os partidos do Centrão têm uma forte presença local e são capazes de atrair votos de políticos e eleitores que buscam uma política mais pragmática e menos ideológica. Além disso, a proximidade com o agronegócio é um fator importante para o sucesso desses partidos, que sabem como atender às demandas dos produtores rurais e dos moradores das cidades do interior. A política local é um terreno fértil para o Centrão, que consegue se adaptar às necessidades específicas de cada região e conquistar a confiança dos eleitores.
O Centrão no Agronegócio: Uma Análise da Política Local
Entre os sete municípios com maior valor da produção agropecuária (VPA) e com pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, o Centrão é o principal favorito em cinco cidades, enquanto apenas duas apresentam uma polarização entre petismo e bolsonarismo. Um exemplo disso é São José do Rio Preto, localizada a 440 quilômetros da capital, onde o Centrão exerce uma forte influência no interior de São Paulo.
Com 480 mil habitantes e um orçamento de R$ 3,3 bilhões previsto para 2025, a cidade é governada há oito anos por Edinho Araújo, do MDB, partido do ex-presidente Michel Temer. De acordo com uma pesquisa encomendada pelo SBT, o candidato da situação, Itamar Borges (MDB), e o ex-prefeito Valdomiro Lopes (PSB) estão tecnicamente empatados na primeira posição, com 30,3% e 30,1% das intenções de voto, respectivamente. A pesquisa foi realizada pela Sinfor Consultoria entre 6 e 8 de setembro e registrada na Justiça Eleitoral com o código SP-03988/2024.
A falta de chuvas reduziu o nível da Represa Municipal e já coloca Rio Preto sob risco de racionamento. Filho de um ex-prefeito de São José do Rio Preto, Lopes é um típico representante da elite política local. Médico por formação, foi prefeito da cidade por dois mandatos (2009-2016) e já passou por quatro partidos, incluindo o Progressistas, do senador Ciro Nogueira (PI) e do deputado Arthur Lira (AL). Já Borges iniciou sua carreira política em Santa Fé do Sul, onde foi vereador e prefeito. Advogado, é deputado estadual desde 2011.
O Centrão e a Política Local
Atualmente, Borges conta com o apoio de 12 partidos, incluindo o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, em sua campanha para governar Rio Preto. A disputa entre os dois representantes da elite política de São José do Rio Preto acabou empurrando o candidato do PL, coronel Fábio Cândido, e o candidato do PT, Marco Rillo, para a segunda e terceira posições na pesquisa do SBT, com 14,2% e 8,8% das intenções de voto, respectivamente. Nem a visita de Jair Bolsonaro à cidade, dividindo palanque com Cândido, nem a campanha feita pelo filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), nas redes sociais foram suficientes para impulsionar o desempenho do militar nas pesquisas.
O professor de teoria política Paulo Nicolli Ramirez, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), afirma que o cenário observado no interior do Estado reflete uma questão histórica, em que as elites locais mantêm sua hegemonia independentemente do regime político ou do presidente da República. ‘Os partidos, nesse caso, servem apenas como fachada, já que no Brasil predomina o personalismo. Isso significa que a instituição partidária tem menos importância do que a figura pessoal que angaria os votos. No interior de São Paulo, esse fenômeno é ainda mais acentuado’, diz o professor.
Segundo Ramirez, o personalismo no interior se manifesta por meio de um poder oligárquico, no qual as elites locais se adaptam de forma flexível ao cenário político. Quando há polarização, geralmente ocorre através de representantes locais que aproveitam o contexto político para manter sua influência. O Centrão, nesse sentido, é um exemplo de como as elites locais podem manter sua hegemonia no interior de São Paulo.
Fonte: @ Estadão
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