Um filme de beleza no espaço, onde a arte mundana se mostra em um trajeto cinematográfico naturalista, revelando uma relação amorosa única.
Em João Pessoa, foi encerrado com sucesso o Fest Aruanda 2024, um dos principais festivais de cinema do Brasil, que trouxe aos seus assistentes um vale-tudo de emoções, com obras de renomados diretores e cineastas nacionais e estrangeiros. Ao longo de 10 dias, o Festival levou ao público, durante o mês de março, uma rica programação com diversas obras cinematográficas em competição, trazendo no entanto, como destaque, o filme A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, que foi considerado o vencedor do prêmio.
Com uma vasta programação que contou com uma seleção de eventos de grande relevância da área cinematográfica, o Fest Aruanda 2024 foi um marco importante na programação cultural da cidade. Com um elenco de expoentes importantes da área, o Festival deu a oportunidade para o público de se relacionar com o cinema e assistir a obras de renomados cineastas e diretores, tornando-se assim, uma experiência única para os assistentes.
Festivais de cinema: um reflexo da sociedade
É um momento propício para refletir sobre a atualidade, e os festivais de cinema são um reflexo disso. A partir do testemunho de Davi Kopenawa, um xamã yanomami, acompanha o ritual Reahu, onde a comunidade Watoriki luta para segurar o céu que ameaça desabar sobre sua cabeça. Essa ideia é oportuna, especialmente em um momento em que a humanidade está enfrentando desafios como a extrema-direita e os distúrbios climáticos.
Essa é a realidade em que vivemos, com a mercadoria e o crescimento infinito da economia sendo os principais motivadores. A Queda do Céu, um filme de beleza ímpar, é um exemplo disso. Anunciada no plano-sequência inicial, a comunidade avança em direção à câmera em tomada única, garantindo que as imagens e ideias não serão banais pelo resto do filme. Além do troféu principal, o filme venceu nas categorias de montagem e som, além de receber o prêmio de melhor festival no evento.
Outro festival muito premiado foi Kasa Branca, de Luciano Vidigal. O filme conta a história de um rapaz que cuida de sua avó, que sofre de Alzheimer e está próxima da morte. Em companhia de dois amigos e da idosa, ele vai tocando sua vida entre festas, tentativa de reaproximação com o pai e envolvimentos amorosos. O filme ganhou o júri popular, o Prêmio Especial do Júri e atriz coadjuvante (Teca Pereira), mostrando que é possível criar uma história de festivais sem cair em clichês.
Baby, de Marcelo Caetano, é um filme excepcional que põe em cena o relacionamento entre dois homens, um jovem michê e seu gigolô com o dobro da idade. O que poderia ser uma relação de exploração, revela-se simplesmente um caso de amor – nada óbvio e filmado com muita inspiração. O filme ganhou vários troféus, entre os quais o de melhor ator (João Pedro Mariano) e roteiro.
Manas, de Marianna Brennand, é outro desses veteranos de festivais. Fala de pedofilia no interior das famílias, tomando um caso na ilha de Marajó. Uma garota de 13 anos, assediada e sem perspectivas, tenta uma saída desesperada para escapar da engrenagem em relação à qual a mãe é cúmplice e a polícia, impotente. O Prêmio de direção foi para a cineasta e o Prêmio Especial do Júri para o conjunto das intérpretes.
O original Lispectorante, de Renata Pinheiro, ficou com os troféus de atriz (Marcélia Cartaxo) e coadjuvante (Pedro Wagner), e me pareceu bastante interessante. Tira a atriz Marcélia Cartaxo do seu habitat artístico habitual e faz da sua personagem uma artista plástica tão sofisticada como angustiada. Ela tenta se (re)encontrar através do labirinto existencial proposto pela literatura de Clarice Lispector.
Fonte: @ Estadão
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